Mário Soares, por qué no te callas – Parte III

Recordo algo que escrevi sobre Mário Soares em 2009:

Respeito muito Mário Soares pelo papel que desempenhou na construção da democracia portuguesa. De qualquer forma, ao contrário de outros, não lhe coloco o epíteto de “Pai da democracia”. Foi uma das figuras importantes – a par de Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Álvaro Cunhal entre outros – mas está longe de ser o principal ou único responsável.

Ele, melhor do que muitos, deveria saber que em política (como na vida) tudo tem o seu tempo. Pelo percurso que teve já devia ter aprendido que os grandes homens da história souberam saír na altura certa. Saber o timming para se retirar e dar lugar aos mais novos é algo essencial para se “saír pela porta grande“.

Além disso o corpo humano vai-se detereorando com a idade, e mais grave do que as debilidades físicas que começam a aparecer, é a perda de capacidades cerebrais. Está provado cientificamente que com o avançar dos anos o cérebro vai atrufiando (se assim se pode dizer) e vamos perdendo discernimento.

Mário Soares terminou em 1996 o seu mandato de PR e podia ter-se retirado. Mas o bichinho da política, o amor pelo partido, e a consciência de que ainda era capaz, fê-lo rumar a Bruxelas em 2000. Penso que fez bem, porque a sua experiência e conhecimento podiam contribuir para a construção europeia e para a defesa de Portugal na UE.

Em 2005 com 81 anos tomou a decisão correcta e sensata de se retirar, anunciando que abandonava definitivamente a política. Tinha sido um percurso brilhante ocupando o cargo de PM, PR e Deputado Europeu. Retirava-se um grande homem que contribuiu imenso para a construção do país.

Mas infelizmente, para ele e para muitos de nós, os últimos 6 anos foram catastróficos. A candidatura presidencial de 2006, os argumentos de cabo de esquadra para defender Sócrates, as criticas à oposição de Passos Coelho, e demais demagogia e banalidades que tem proferido.

A última prova de que está fora de prazo, foi o manifesto que Mário Soares lançou há dias (juntamente com mais uns quantos pataratas). Tal como diz, e muito bem, o Duarte Marques, Soares e demais comparsas, chegam tarde, muito tarde.

Para além do mais, pede uma “mudança de paradigma” (qual Fátima Campos Ferreira), mas não apresenta alternativas, e pelo que se consegue perceber, quer mesmo é que tudo continue como está. Ou melhor, que recue para o que foi há 30 anos atrás.

O que Soares pretende, não é um melhor futuro para Portugal, mas que tudo volte a ser como dantes. Como disse Pessoa: “A recordação é uma traição à Natureza. Porque a Natureza de ontem não é Natureza. O que foi não é nada, e lembrar é não ver“.

É pena que Mário Soares não se contenha, porque assim ele está a perder o respeito que os portugueses (mesmo os que não são do PS, como eu) tinham por ele. E além disso não está a contribuir em nada para que Portugal e a Europa consigam sair desta crise profunda.

3 thoughts on “Mário Soares, por qué no te callas – Parte III

  1. Naturalmente, comento as atitudes de Mário Soares, com as palavras que ele mesmo usou em relação a Otelo! Só discordo na questão da ternura, porque já não consigo enternecer-me com eles e as baboseiras que a imprensa alimenta! E subscrevo inteiramente os comentários feitos por Marques Mendes na TVI, na 5ª feira passada! Foi muito certeiro, muito pertinente no modo como “lê” as atitudes e comentários de Soares!

    • É verdade Esmeralda, o pior de tudo é que a comunicaçao social alimenta as bojardas de Soares. E essa é uma das razões pelas quais ele continua a opinar sobre tudo e todos.