Serviço público (?!) na Antena 1

A Antena 1, estação de rádio pertencente à RTP, tem um programa semanal que se chama “O esplendor de Portugal“. Naquela hora, Rui Pêgo e os seus 3 convidados permanentes lançam “um olhar particular sobre Portugal e os portugueses“.

Desconheço por completo os 3 comentadores. Quem são, o que fazem, em que acreditam, que capacidades lhes são reconhecidas. Apenas sei que um é espanhol, o outro italiano e a única mulher, sensata e de voz doce, é portuguesa.

O que ali se houve da boca dos dois “estrangeiros a residir em Portugal” são as maiores bojardas. Bêbadas de demagogia e desonestidade intelectual. Tendo por base a mais pura ignorância e o mais extravagante desfaçatez.

Várias vezes comentei no twitter/facebook as coisas que lá ouvia, à 5ª feira. Hoje apeteceu-me dedicar-lhe um post no blogue. São absolutamente inacreditáveis as coisas que esta gente, paga com o dinheiro dos nossos impostos, diz.

Rui Pêgo questionou os comentadores sobre a construção da Barragem do Tua que servirá milhares de pessoas, e o facto de o Alto Douro Vinhateiro correr o risco de ser desclassificado como património mundial.

O imbecil espanhol disse: “A barragem é da EDP. Se não se vendesse a EDP – coisa de animais, de chimpanzés – achava que era mais importante a barragem. Mas se for para vender e dar dinheiro aos alemães prefiro o património“.

Já o chéché italiano disse: “Que interessa o património se as pessoas não têm água para lavar a cara e para beber” […] “Se vai destruir um campo muito bonito, tem de se ter isto em conta, mas é fácil, faz-se a barragem mais para lá”.

Eu não sabia que em Itália a água das barragens servia para lavar a cara e beber, ou que lá se conseguia deslocar “mais para lá” uma barragem (das mais complexas obras de engenharia). Ignorava que em Espanha há o hábito de insultar o próximo e de ser sectário.

É isto o serviço público? Gostaria de ouvir sobre isto alguns jornalistas da estação, que tenho em boa conta. Como Natalia Carvalho, Susana Barros ou Maria Flor Pedroso.

Rádio 15-0 Televisão

Muitos pensam que este é cada vez mais o tempo da TV, em que tudo o que passa no ecrã se torna poderoso, nem que seja por apenas 15 minutos. Para mim, este tem sido o tempo da rádio. Passo a explicar olhando para os canais abertos de Portugal.

SIC e TVI são nitidamente estações onde se produz apenas e só lixo televisivo, que serve para satisfazer e estupidificar o já de si estúpido e inculto povo. A grelha de programas está pejada de novelas, reality shows e séries de gosto duvidoso.

A RTP 1 tem, supostamente, uma obrigação de serviço público. Tenta transmitir alguns programas de debate, entrevistas e reportagens. O problema é que além de os temas serem manietados, os convidados são sempre os mesmos e não trazem novidades.

Obviamente que, para competir com SIC e TVI, a RTP 1 também transmite novelas (no caso brasileiras, cada vez de menor qualidade, porque SIC paga mais pelas melhores) e reality shows (neste caso de melhor qualidade, talvez dado a alguma reserva moral).

A RTP 2 tem uma grelha melhorzinha, mas ainda assim com alguns programas de gosto duvidoso. Bons documentários, algumas séries aceitáveis. Mas a má interpretação do serviço público, e a escassez de meios faz com que o canal tenha uma grelha pobre.

Ao contrário da TV, a Rádio tem programas de grande qualidade. E falo apenas das que ouço frequentemente. Há excelentes entrevistas a gente desconhecida do público em geral, mas com grande categoria. Relevo o programa “Pessoal e transmissível” de Carlos Vaz Marques.

Os programas de debate político são mais interessantes, pela escolha dos temas e pelos moderadores mais capazes e independentes. Ainda assim pecam nos convidados que, tal como na TV, são quase sempre os mesmos e com o mesmo discurso.

Os programas humorísticos são muito bons, com humor inteligente e com piada. Talvez a falta de imagem evite o humor fácil e imbecil das TVs e obrigue os autores/intérpretes a aprofundar mais o seu trabalho. Destaco o “Governo Sombra” e o “Tubo de ensaio” de Bruno Nogueira.

Também no desporto a Rádio supera a TV. Não só com programas de culto como “Bola Branca”, mas também com comentário sério e conhecedor, que foge ao discurso fácil da corrupção e das arbitragens. Aconselho “Os grandes adeptos” e “Jogo Jogado”.

A informação é de longe melhor do que a TV. É precisa e objectiva, abordando os temas realmente importantes. Talve porque tem de ser feita em 10 minutos (e não em 1 hora) deixa de lado a “espuma dos dias” e não fica a “encher chouriços” com notícias parvas.

As reportagens da Rádio são de uma qualidade que faz com certeza inveja à TV. Fazem-se trabalhos de fundo sobre temas interessantes e actuais, ao invés de tragédias/histórias de vida, os temas que a TV gosta de oferecer ao espectador tacanho e pobre de espírito.

De resto, há programas diferentes e inovadores como “Sinais” onde Fernando Alves aborda um tema actual com linguagem artística e opinião séria e ponderada. Ou o “Janela indiscreta” de Pedro Rolo Duarte onde o jornalista visita e cita blogues sobre a actualidade.