Eleições do FC Tirsense. Espelho da sociedade

Não sei, e sinceramente pouco me importa, quando são as eleições no FC Tirsense. Não sou sócio e por isso, nem que quisesse, não posso votar. Já fui sócio, nos anos 90. Deixei de ser, quando me apercebi que o clube não trazia valor acrescentado à sociedade Tirsense. Exactamente o que fiz e faço noutras instituições das quais sou membro/sócio. A partir do momento em que passam a ser um “couto” de uma pessoa ou grupo de pessoas que apenas olham pelos seus interesses – deixando de lado o objectivo do bem comum, para o qual de resto foram criadas – eu deixo de pagar cotas e suspendo/termino o meu vínculo de membro/sócio. É uma questão de princípio e de boa gestão do meu tempo e dinheiro.

Tenho seguido com particular atenção (não confundir com interesse) a recente “luta” pela direcção do clube. Isto depois de incompreensivelmente o FC Tirsense ter passado anos com Comissões Administrativas, umas atrás das outras. Nunca percebi – mas talvez um dia alguém me possa explicar – porque é que quem se disponibilizava para fazer parte dessas Comissões Administrativas desaparecia nas alturas em que (por obrigação estatutária, presumo) se abria um processo eleitoral para a direcção do clube. Processo esse que invariavelmene terminava com nenhuma lista concorrente.

Olhando para as candidaturas, só me ocorre dizer que começa a ser recorrente e preocupante, que em Santo Tirso não haja gente disponível, com capacidade e competência, para assumir cargos de direcção nas mais diversas instituições do concelho. Do desporto à cultura, da educação à solidariedade, passando por outros sectores, a maioria das instituições Tirsenses está entregue a pessoas que não preenchem todos os requisitos para “dirigir”. Porque é disso que se trata quando falamos da direcção de uma organização. Não generalizando, porque há excepções, a maioria é fraca.

Focando-me nas eleições para a direcção do FC Tirsense há algo que me atinge como um raio: as mensagens que ambas as candidaturas têm partilhado nas redes sociais. Nem quero imaginar as conversas e acções que vêm sendo tomadas fora do mundo digital. Sinto vergonha alheia, pelo facto de haver candidatos que nem português sabem escrever. Que publicam mensagens desestruturadas, cheias de erros de ortografia e de sintaxe. E se na forma essas mensagens são horríveis, então no conteúdo nem se fala. É, como se costuma dizer, de uma pobreza franciscana.

Ambas as listas, mas também os seus candidatos, publicam mensagens onde há de tudo menos o que seria de esperar. Ou seja, ideias, um programa, uma estratégia bem definida. O que há é o costume (em futebol mas também na política e noutros sectores), nomes e promessas, promessas e mais promessas. De quê? De nada. Promessas vagas, avulsas, e muitas vezes irrealizáveis. Mas os candidatos e as listas fazem-nas na mesma. Que importa? Neste país ninguém cumpre mas também ninguém é julgado ou avaliado por isso. Nas próximas eleições já ninguém se lembra. “Fazer o FC Tirsense maior”. O que quer isso dizer? Nada. Absolutamente nada.

Mas as promessas são apenas uma pequena parte das mensagens publicadas. A maior parte dos textos são para atacar o adversário. Insinuando que o adversário faz insinuações. Acusando o adversário de fazer acusações. E de resto é o habitual puxar de galões e medir de pilinhas. Na verdade pouco mais podem mostrar ou comparar. Porque tanto uns como outros têm muito pouco de si para falar. De resto, as recorrentes juras de amor e de morte (uma das coisas mais estúpidas do nosso futebol). “Tirsense até morrer” fazendo lembrar o inconsciente e imbecil slogan da claque Juve Negra há muitos anos atrás “O Tirsense é a minha droga, quero morrer de overdose”. Mas enfim esses, nessa altura, eram adolescentes.

Confirmar nesta troca de galhardetes, que o saneamento financeiro e a recuperação do FC Tirsense tem vindo a ser feito com o apoio da Câmara Municipal de Santo Tirso (CMST). Gastando recursos e dinheiro que todos nós pagamos como contribuintes, numa instituição que provavelmente já não deveria existir – tantas foram as falcatruas e as ilegalidades cometidas no passado longíncuo e recente. Na verdade, o FC Tirsense (como outros clubes grandes e pequenos) são o espelho do país. Do qual um grupo de gente menor se apoderou e governou. Chupando o mais que podia, até ao tutano. E partindo depois, deixando para trás apenas cacos.

Para finalizar uma palavra sobre o tópico eleições. Para mim, que sou democrata verdadeiramente, haver mais do que uma lista candidata é sempre saudável. É sinal de que há pluralismo de ideias. E é desse pluralismo que normalmente nascem as melhores escolhas e soluções. Como disse Pedro Fonseca (conhecida figura Tirsense) no seu Facebook, deveria ser um sinal de que o clube está bem e recomenda-se. Infelizmente não é isso que pensam listas e candidatos. Gente que, tal como outros que conhecemos, prefere não ter adversários. Fazendo lembrar regimes/organizações autocráticas e ditatoriais. Ao invés de esgrimir ideias, atacam-se pessoalmente.