Na JSD… eu votaria André Neves

Vi hoje, com curiosidade, o debate entre os dois candidatos à liderança da JSD (Juventude Social Democrata), transmitido pelo SAPO 24. Podem ver aqui, no Facebook. São 90 minutos de boa discussão. Apesar do fraquíssimo moderador.

Conheci a Margarida Balseiro Lopes há 10 anos, em Lisboa. Desde então tenho acompanhado o seu percurso político com atenção. Não conheço o André Neves, mas pedi opinião a gente que estimo e em quem confio.

Fui ver o debate sem qualquer expectativa ou ideia pré-formada, mas no final fiquei esclarecido. Como militante do PSD, preferia que a JSD tivesse o André Neves como presidente no próximo mandato.

A Margarida mostrou-se demasiado igual àquilo que se tem visto na política portuguesa nas últimas décadas, em particular nos centros de decisão política (como as lideranças partidárias, a Assembleia da República, e o Governo).

Não admira, já que são esses mesmos meios que a Margarida tem frequentado nos últimos anos, principalmente desde que é deputada. Sei bem que é mais fácil deixar-se engolir pelo “sistema” do que ser diferente (como fez, por exemplo, Sá Carneiro).

No debate, a Margarida mostrou conhecer todos os truques dos políticos profissionais. Acusou o André de ataques baixos (quando ele falou de apoiantes menos recomendáveis) mas depois atacou-o no seu carácter (ao acusá-lo de não ser sério, e de ser desnonesto intelectualmente).

Quando o assunto era desconfortável, a Margarida fugia com um “prefiro discutir nos locais próprios” ou um “não fiques nervoso“. Intitulou-se democrata, mas no final deixou cair que a JSD ficaria melhor com uma Comissão Política Nacional (CPN) menos pluralista.

O André mostrou-se muito mais genuíno e próximo da realidade (longe de “Lesboa”, o que é uma vantagem enorme). Apresentou o que, a meu ver, são propostas, convicções e ideias sensatas, realistas, inovadoras, e em linha com os ideais do partido.

(um parêntesis para dizer que a proposa que mais gostei, foi a de nomear os deputados da JSD com base em critérios de meritocracia, e não na quantidade de votos que conquistam, ou na influência que têm na estrutura partidária – isto rasga totalmente com o “sistema” actual).

Não podendo ter a certeza, quer-me parecer que o André nunca se sentiu bem como Vice-Presidente da actual CPN (para onde parece ter sido nomeado apenas e só por ser presidente da distrital de Leiria), e que se sentiu impotente perante os de “Lesboa”.

O pouco à-vontade que demonstrou no debate, foi compensado com a preparação que levou. Os “recortes” de notícias tocavam em pontos-chave, e foram lançados nos momentos certos. O que demonstra capacidade de trabalho e habilidade.

Eleições de líderes em congresso (ao contrário de “directas”) são muito mais permeáveis a caciques. E parece-me evidente que há um movimento forte em “Lesboa” à volta da Margarida – que é a preferida para suceder ao Cristóvão Simão Ribeiro.

Para aqueles que nunca ouviram falar dele, o Cristóvão Simão Ribeiro é o presidente da JSD desde 2014. Surpreende alguns, eu sei, que nunca ouviram falar dele. Mas é também por isso que o André tem razão – a JSD andou 4 anos centrada em si mesma e em “Lesboa”.

Estava na hora de se abrir ao país e aos jovens. Voltando ao que era até 2012 – ano em que o Duarte Marques deixou a liderança. O Duarte foi o último líder que fez jus ao estatuto da JSD. Desde então a JSD não tem sido mais do que um instrumento dos seus líderes e da cúpula de “Lesboa”.

Deixem-me votar, onde quiser, mas não me obriguem

Na nova coluna do Jornal i em que escreverá quinzenalmente, Duarte Marques aborda 3 temas que também a mim são caros. Porque dizem respeito a duas coisas que considero fulcrais para que Portugal tenha um futuro melhor: a juventude e a melhoria da Democracia.

E estas duas coisas não estão dissociadas. A melhoria da Democracia não se faz apenas pela substituição deste ou aquele político. Ela só poderá melhorar se a população participar. E hoje os jovens são os que menos participam. Seja por opção ou proibição.

O presidente da JSD fala do voto aos 16 anos, do voto obrigatório e do voto electrónico. São temas que têm servido de bandeira a juventudes partidárias e mesmo a alguns políticos “séniores”, mas apenas em tempo de eleições, tentando captar o voto dos mais novos.

Desta vez o Duarte Marques aborda os temas numa altura em que não há eleições. Fá-lo aliás pouco depois das eleições Legislativas 2011. Tantos temas mais prementes e vai ele falar disto. Porque será? Porque está realmente interessado em que isso avance.

Não sei se será esta a ideia do Duarte Marques, mas lançando a questão desde já, e lutando por ela ao longo dos próximos meses ou anos, ninguém poderá nas próximas eleições dizer que é tarde demais, ou que é muito em cima da hora. Há que implementar isto.

Concordo com o voto aos 16 anos, mas apenas da forma como o Duarte o expõe. Ou seja, ao contrário do que acontece agora aos 18 anos (todos são automaticamente recenceados), apenas os interessados deverão poder recencear-se. Os mais maturos fa-lo-ão. Estarão preparados.

Tal como diz o Duarte, já é um facto que aos 16 podemos (desde que autorizados): casar, trabalhar, emigrar, formar uma empresa, ser julgados criminalmente. Temos portanto “direitos e deveres perante a sociedade” mas no entanto não podemos “escolher quem governa“.

Concordo com o voto electrónico, e aliás clamo por ele há muito tempo. Como pode Portugal gabar-se de estar na linha da frente das tecnologias de informação, dos grandes projectos inovadores (energias renováveis, mobilidade eléctrica, etc.) e não ter este sistema de voto?

Muita gente (principalmente os mais jovens) viu a sua aposta académica e opção profissional afastá-lo da sua terra natal. Mas isso não significa que não queira continuar a participar e votar onde nasceu/cresceu (e quiçá onde quer voltar). Obrigar a deslocações em dia de eleições não faz sentido.

Ao contrário do Duarte Marques, tenho algumas dúvidas quanto ao voto obrigatório. Admito que tem prós, mas também tem contras. E assim de repente os únicos prós que encontro são: a) anular as elevadas taxas de abstenção; b) legitimar em absoluto os eleitos.

Rebato com o seguinte. Tal como se dá a opção aos 16 anos, apenas aos mais maturos e interessados, o mesmo se aplica aos adultos. Se não têm a consciência do que é a Democracia e o poder do voto, então mais vale não votarem. Talvez façam menos estragos assim.

Além disso, ninguém se candidata para representar quem não vota porque não lhe apetece, não se revê nos candidatos, não acredita no sistema político, não é democrata. Quem não quer ser representado não se faz representar.

Mais. E se em vez de 60% de abstenção houvessem 60% de votos nulos/brancos? Se bem conheço Portugal, os portugueses, os políticos e principalmente a comunicação social, também haveria logo quem pusesse em causa a legitimidade do vencedor.

A Democracia está intimamente ligada à Liberdade. A Democracia é participação, mas ela também é o direito que cada um tem de fazer o que bem lhe apetece – dentro da lei e desde que não vá contra o direito de outrem.

Não quer ir votar? Não vota! Deixa os outros decidirem por ele. Mas é bom que tenha bem presente o que disse Aristóteles: “O preço a pagar por não te interessares por política é seres governado pelos teus inferiores“.

Sendo assim… Voto electrónico, claro! Voto aos 16 anos, sim! Voto obrigatório, talvez seja melhor reflectir mais sobre isso. Há que dar os parabéns ao Duarte Marques e à JSD, por terem levantado estes temas nesta altura. Agora há que trabalhar por eles.