O belo do serviço prestado pela CP

Como habitualmente aos domingos, no dia 27 Novembro 2011, fui apanhar o comboio que deveria sair de Porto Campanhã às 19h52 e chegar a Lisboa Santa Apolónia pelas 23h00.

Chegada a hora de partida ouviu-se nos altifalantes da estação a informação de que, devido ao colhimento de uma pessoa, o comboio chegaria com alguns minutos de atraso.

Passados os tais (poucos) minutos, o comboio ainda não tinha chegado e os passageiros foram informados de que o atraso afinal era de cerca de 50 minutos. Nova hora: 20h42.

O facto é que, às 20h42 o comboio não chegou, e nunca mais os passageiros foram informados de novo atraso. Mantendo-se na plataforma, com um frio de rachar.

A CP limitou-se a mudar a hora de partida no painel, sem aviso ou justificação aos passageiros. Sempre que se atingia a nova hora, aumentavam 2 minutos à hora de partida.

O comboio acabaria por chegar às 21h00 (70 min depois), e a viagem ao invés de demorar 3 horas e 8 minutos levou 3 horas e 35 minutos, chegando a Lisboa pelas 00h35.

O atraso foi portanto de 1 hora e 35 minutos. E dado que o comboio chegou depois das 00h00, não pude apanhar o autocarro habitual e tive de pagar um táxi até casa.

Por tudo isto, solicitei à CP o reembolso do diferencial entre o valor do táxi e o valor do bilhete de autocarro, bem como da parte do bilhete de comboio, a que tinha direito.

A saber (informação requisitada por mim previamente, e fornecida pela CP):
– Reembolso 50 % do bilhete, se duração viagem exceder em 60 min, tempo de viagem estabelecido.
– Reembolso integral do bilhete se duração viagem, exceder em mais de 50%, tempo de viagem estabelecido.

Enviei a reclamação por email no dia 29 Novembro 2011. Recebi a resposta 3 meses (!!) depois em 22 Fevereiro 2012. A CP diz não ter de me reembolsar pelo atraso.

Segundo a CP, não são da sua responsabilidade os atrasos que se devem à “Interrupção do serviço por ocupação da via por pessoas, animais, veículos ou coisas“.

Gosto especialmente do “coisas“. Se a CP não tivesse o monopólio do transporte ferroviário (de longo curso) em Portugal, de certeza que não iria destratar os passageiros desta forma.

Culpas no buraco dos transportes

As empresas de transportes públicos têm uma dívida acumulada de 10.000 M€. 10 vezes mais que a dívida da Madeira e 5 vezes mais do que se gastou no BPN (casos em que a opinião pública e publicada se revoltou).

Há muitas razões para que estas empresas tenham acumulado uma dívida desta dimensão. Entre elas estão as seguintes:

a) Falta de política estratégica de transportes.
b) Incapacidade e incompetência na gestão.
c) Má (ou péssima) prestação de serviços.
d) Regalias e “direitos adquiridos” a mais.
e) Manutenção de vantagens para familiares e outros.
f) Excesso de passageiros que não pagam títulos de transporte.

a) A culpa é da tutela. Em última instância, dos Ministros responsáveis pela pasta dos Transportes. Não tem havido vontade ou coragem para se alterar o status quo. É necessário reformar empresas, juntando-as. É essencial integrar transportes. Solução poderia ser juntar transportes da área metropolitana numa só empresa.

b) A culpa é dos administradores. O problema começa logo na escolha das pessoas, através de nomeações políticas que previlegiam o nepotismo e a filiação partidária. A isso junta-se a falta de formação, de capacidade e de competência. Não há avaliação ou responsabilização. Têm ordenados e prémios milionários mesmo não cumprindo objectivos.

c) A culpa é dos trabalhadores. Está enraízado o “funcionarismo público”. Não há patrão, não há objectivos, não há avaliação, não há despedimentos. Não é portanto necessário fazer esforço para ser cada vez melhor. A ideia é que estão a fazer um favor ao utente. Prolifera a arrogância, o desleixo, a negligência, a incúria.

d) A culpa é dos 3 anteriores, e dos sindicatos. Prémio de 200€ por completar dia de trabalho? Prémio de 125€ pela assiduidade? Prémio de 70€ por não faltar mais de 5h/mês? Mas não é obrigação de qualquer pessoa trabalhar e ser assídua? Principalmente num ramo onde tudo depende de horários! 30 dias de férias e 100% vencimento em caso de baixa?

f) A culpa é de todos os anteriores. Cônjuges, pais, filhos, enteados, etc. Todos viajam à borla. Militares, juízes e outros funcionários do Estado. Isto fazia sentido quando as mães não tinham emprego (porque ficavam em casa a tomar conta dos filhos) ou quando militares e juízes eram o garante da Segurança e da Justiça. Hoje é absurdo.

f) A culpa é da mentalidade tuga e falta de fiscalização. Todos os dias ando nos transportes públicos, e garanto que há tanta gente que paga como aquela que não paga. E se dantes havia vergonha e se tentava entrar à sucapa, agora é “na boa”. O que vão fazer os motoristas e revisores? O que ganham eles? Habilitar-se a serem insultados ou espancados? Mais vale estar quieto.