Primeira interacção
Fiquei à porta. O segurança perguntou-me se tinha fotografia tipo passe. Não tendo, aconselhou-me a ir a um mini-mercado ali perto. Deu as indicações exactas. Disse que teria de entrar, ir à caixa e pedir para tirar fotos. Assim fiz, na minha inocência e boa fé. Ao chegar mandaram-me para a cave. Lá estava um senhor – cipriota nos seus 60s – com uma máquina e uma impressora piores do que as minhas. Perguntou se vinhamos do consulado de Portugal. Cobrou 10£ por 4 fotografias paupérrimas tiradas contra uma parede. Claramente tinha um “acordo” com o segurança. Talvez uma comissãosinha em cada cliente. No consulado não fizeram a inscrição alegando falta de “papéis”.
Segunda interacção
O objectivo era votar para umas eleições em Portugal e o diálogo desenrolou-se assim…
Eu, com cara simpática: “Boa tarde, eu venho saber como posso votar nas próximas eleições”
Segurança, muito seguro de si: “O quê? Votar naquela gente? Eles mereciam era que os deitassem todos ao rio!”
Eu, com cara séria: “É um dever cívico!”
Segurança, com o rabo entre as pernas: “Pois, eu estava a brincar… hehe… É assim mesmo, gosto é de gente como o senhor!“
A verdade é que os cadernos eleitorais já estavam fechados e não consegui votar, mas ao menos – já que ia prevenido com toda a documentação (os famosos papéis) e fotos – pude aproveitar a visita para finalmente fazer a inscrição no consulado. Não sem antes ter tido um tête-á-tête com o rude funcionário que dizia “Não” a tudo antes de perguntar, e acabava por aceder depois da minha resposta.
Terceira interacção
O objectivo era tirar o passaporte. Por motivos profissionais precisava de viajar para fora da Europa. Depois de um telefonema a funcionária enviou-me o link para fazer o agendamento online. O diálogo desenrolou-se ao telefone assim…
Eu: “Bom dia, daqui fala Luis Melo novamente. Eu estava a tentar marcar o agendamento online mas não me está a ser possível. A opção para escolher o posto consular não tem qualquer valor. E não posso prosseguir sem isso preenchido”
Funcionária: “Já fez a pré-inscrição?”
Eu: “Eu já estou inscrito no Consulado”
Funcionária: “Pois, mas tem de fazer a pré-inscrição, novamente”
Eu: “Hum… mas se eu já estou inscrito no Consulado, não creio que faça muito sentido fazer a pré-inscrição novamente”
Funcionária: “Pois, mas tem de ser porque o sistema não funciona muito bem”
Eu: “Ok, mas eu tento clicar no botão “pré-inscrição” e não acontece nada”
Funcionária: “Pois, o site por vezes não funciona muito bem, tente noutro browser”
Eu: “Já tentei. No Chrome, no Firefox e no Internet Explorer. Em nenhum funciona”
Funcionária: “Pois, o site vai muito abaixo ou é lento porque há muita gente a tentar aceder. Tente noutra hora”
Eu, já um pouco acossado: “Hum… e qual acha que é então a melhor hora?”
Funcionária, um pouco rude: “Pois, não sei. Eu não faço a mínima ideia de quando as pessoas estão a tentar aceder ao site”
Eu: “Hum… Ok. Muito obrigado então. Tenha um bom dia.“
Passadas umas horas…
Eu: “Bom dia, daqui fala Luis Melo novamente. Eu fiz o que me disse, a pré-inscrição. Depois disso já consigo avançar mais um pouco. Escolhi o acto consular, mas agora que me aparece o calendário para escolher a hora, isto não funciona novamente”
Funcionária: “Já tentou com outros browsers?”
Eu: “Já tentei com todos os browsers que tenho. No Chrome, no Firefox e no Internet Explorer”
Funcionária: “Pois, então é melhor tentar noutra hora”
Eu: “Eu posso tentar. Não me parece que vá funcionar. E na verdade tenho urgência e não passar o dia todo nisto”
Funcionária: “Pois, mas eu não posso fazer mais nada”
Eu: “Mas não há outra forma de fazer o agendamento? Por mail p. ex. Ou posso passar por aí a marcar presencialmente”
Funcionária: “Pois, não há outra forma. Tem de ser online”
Eu: “Mas se online há tantos problemas e não funciona, devia haver uma forma alternativa…”
Funcionária: “Pois, mas não há”
Eu: “Ok, sendo assim tenha um bom dia“
(tenho a certeza de que a história não fica por aqui e que vai continuar…)