Roupas para Prematuros – O nosso projecto

Para saberem mais, podem ler o artigo publicado no site da CNN Portugal

“Cada fato que faço, sinto que estou a vestir o Luís António”. Ângela cria roupa para prematuros, para que outros pais não passem pelo mesmo: não ter o que vestir aos filhos no funeral

Perder um filho. Não é fácil

Faz hoje 6 meses que nasceu o meu único filho, o Luís António. Daqui a 6 dias faz 6 meses que ele nos deixou.

Passamos, a Ângela e eu, 5 anos entre abortos espontâneos e fertilizações falhadas. Sinceramente perdi-lhes a conta.

Foram anos em que íamos variando entre a frustração e a esperança. Não foi fácil.

Principalmente para ela, porque para além do fardo emocional, teve que carregar o fardo físico.

Mas no final de 2020 a Ângela estava grávida e as coisas corriam conforme o esperado.

Passamos por vários sobressaltos durante os 6 meses de gravidez. Apesar dos sustos, nada parecia fazer desanimar a Ângela.

Eu, confesso… Variava entre o pensamento positivo, e o fingir que pensava positivo. Tentava dar-nos alento.

Mas no fundo sentia um aperto. E sentia-me impotente, por não poder influenciar ou controlar o destino.

Porque sabia que, recentemente, um casal muito nosso amigo tinha passado por uma tragédia semelhante.

Depois de mais um episódio complicado, a Ângela foi levada pelo INEM para a Maternidade Bissaya Barreto. Ficou lá um mês.

Foram 4 semanas difíceis. Precisávamos um do outro. Mas a pandemia só permitia que estivéssemos juntos 1 hora por semana, ao Sábado. Não foi fácil.

No dia 5 de Maio o Luís António teve de nascer. E correu tudo bem com o parto.

Toda a minha vida disse que não conseguiria assistir a um parto. Que com toda a certeza iria desmaiar.

Mas o momento foi muito mais forte. E o instinto de sobrevivência deu-me a coragem para estar ali com a Ângela.

O momento foi mais forte, mas eu nem por isso. Escondia a minha cara no peito e no ombro da Ângela, e apertava-lhe a mão com muita força.

Levantei a cabeça um pouco, e pelo canto do olho vi o Luís António nascer. Tudo pareceu ser tão rápido. Parece que foram minutos. Tenho a certeza que demorou mais do que isso.

Vi-o passar na incubadora, embrulhado num cobertor e com um gorrozinho na cabeça. Tirei uma fotografia. Voltei para junto da Ângela.

Os médicos foram francos. Com 24 semanas e 1 dia, o prognóstico era muito reservado. Iria haver um período de graça inicial, de 3 ou 4 dias, e depois as coisas podiam complicar-se ou evoluir.

Durante 6 dias agarramo-nos à esperança e à fé. Eu queria acreditar que, depois de tantos anos de sofrimento e falhanços, desta vez iríamos ter alguma felicidade.

A Ângela passava a maior parte dos dias junto do Luís António. A mirá-lo dentro da incubadora. Eu só o podia ver 30 minutos por dia. Mas nem sequer lhe podíamos tocar. Não foi fácil.

Pediamos a Deus para que ele não estivesse a sofrer. Porque as coisas não eram, nem estavam fáceis.

Seis dias depois ele não resistiu. Eram complicações a mais. Deixou-nos no dia 11 de Maio. Apesar dos esforços dos médicos e enfermeiros.

Foi o dia mais difícil da minha vida. Pegar no meu filho ao colo, pela primeira vez, e sentir o frio do seu corpo.

E ao mesmo tempo pensar no que estava a sentir a Ângela, no que sentiria a família, e no que nos esperava dali para a frente.

Estou grato à enfermeira, e à Ângela, que insistiram que eu pegasse no Luís António ao colo. Eu não queria. Julgava que ia ser muito doloroso.

E foi. Mas penso que teria sido ainda mais doloroso, se hoje eu me arrependesse de não o ter feito.

Tratar do funeral, e fazê-lo não foi fácil. Nada tem sido fácil desde então.

Eu tento não ceder. Mas por vezes estou só a fingir que sou forte. Tento pensar positivo e ficar esperançado no futuro. E passar esse sentimento para a Ângela.

Não há dúvida nenhuma que os padrões da sociedade me fazem pensar que, como homem, tenho de ser forte e cuidar da Ângela. É verdade que tenho de cuidar dela.

E ela de mim! Sabem lá esses padrões da sociedade aquilo pelo que ela passou. Aquilo que ela sofreu. Aquilo que as mulheres têm de aguentar.

Forte e corajosa é ela. São elas! Mais do que muitos homens! Mais do que eu, com toda a certeza.

E enquanto eu tento conter as minhas emoções (muitas vezes por vergonha e por não querer dar parte fraca) a Ângela deita-as cá para fora quando quer, sem medo! E isso demonstra muita coragem.

Na verdade, que mal tem pensar no Luís António, ou falar dele? Que mal tem ficarmos momentâneamente tristes? Que mal tem deixar cair uma lágrima?

Até já dei por mim, sem querer, a sorrir quando penso nele! Porque nasceu fruto do nosso amor, Ângela. Porque é nosso filho. Porque tem o meu nome.

Não é fácil. É muito difícil. Mas eu não quero esquecer. Não quero criar um tabu.

Quero falar do que nos aconteceu. Quero falar do Luís António. Mesmo que as lágrimas me corram pela cara. Sejam de tristeza ou de felicidade.

Pode não ser sempre, e em todas as circunstâncias. Também nem sempre me apetece falar de trabalho ou de futebol.

Mas não quero evitar. Não é fácil. Mas vou continuar a tentar.

A solução para a corrupção está na nossa mão

Boa tarde, na sequência dos acontecimentos desta semana, quero partilhar convosco 10 pontos.

  1. O Juiz disse claramente que José Sócrates foi corrompido. Pelo menos, por Carlos Santos Silva, e pelo menos em 1,7 milhões de euros. Daí ter sido pronunciado pelos crimes de branqueamento de capitais e de falsificação. Infelizmente o crime de corrupção, segundo o juíz, já prescreveu.
  2. O Juiz considerou que não havia provas suficientes, e por isso deixou cair todas as outras acusações de crimes de corrupção. Mas na verdade, dizem especialistas, que nesta fase de instrução o juízo se deve basear em “fortes indícios” e não em provas. As provas deveriam vir, depois, na fase do julgamento.
  3. Não há dúvida que a abordagem e metodologia do MP não está adaptada às leis e ao código penal que (bem ou mal) temos hoje. É um erro acumular acusações em mega-processos, que pela complexidade e quantidade irão naturalmente demorar mais tempo a construir, e ultrapassam constantemente os tempos previstos na lei para prescrição.
  4. Para além disso, o MP claramente não tem recursos e meios para tratar dos casos que tem em mãos. Daí que meter-se em mega-processos é um erro. Como também é um erro perde tempo em casos sem importância. Como por exemplo aqueles em que políticos falsificam currículos. Isso devia estar a cargo de outros.
  5. A verdade é que tudo isto é culpa desses mesmos políticos. São eles que, na Assembleia da República fazem as leis que dificultam investigações; São eles que, no Governo não investem em meios para fortalecer as autoridades; São eles que, por todo o lado e a todos os níveis, continuam a aceitar, alimentar e proteger os correligionários que cometem esses crimes que entopem o sistema de justiça.
  6. Especialistas disseram nos últimos dias que 90% dos crimes de colarinho branco acabam arquivados ou prescritos. Ora, qualquer cidadão com dois dedos de testa sabe que: ou se aumentam os prazos de prescrição, ou (de preferência) se dá meios ás autoridades para poderem investigar melhor e mais depressa. Mas aos poderosos, e aos políticos (que são quem pode alterar a lei ou investir) isso não interessa.
  7. Mais importante que o combate à corrupção deveria ser a prevenção da mesma. Mas em Portugal temos, como sempre, tudo ao contrário. Tal como nos incêndios por exemplo. Os sucessivos governos despejam milhões em helicópteros e aviões de combate (pelo caminho incitando e criando mais corrupção), e tostões em iniciativas de prevenção que não passam de acções de marketing político que ficam bem nas televisões.
  8. Era preciso ter políticos com coragem, para aprovar na Assembleia da República, leis que claramente prevenissem a corrupção. Exigindo total e incondicional transparência. O interesse dos portugueses, e o dinheiro dos contribuintes está acima do incómodo que uma lei de transparência possa provocar num ministro, num deputado ou num presidente de câmara. E quem não está bem com essa transparência, quem tem algo a esconder, pode abdicar ou ficar em casa, porque ninguém é obrigado a estar na política.
  9. Tudo isto está nas nossas mãos. Nas mãos de todos os portugueses. Aqueles que, por exemplo, se movimentaram nos últimos dias, para assinar uma petição a pedir o afastamento de Ivo Rosa (que já são mais de 100.000); Aqueles que se vão juntar às manifestações que estão a ser organizadas nos próximos dias, contra o estado da justiça; e os milhões que se queixam nas redes sociais e á mesa de jantar ou á mesa do café… deviam movimentar-se para ir votar nas próximas eleições.
  10. É importante nessa altura dar o voto a pessoas que têm provas dadas, de competência, de seriedade, de coerência, e de coragem. Atenção: Ser competente, sério e coerente não é suficiente. Esses, tipicamente deixam-se diluir no meio do status quo – porque não têm força nem resiliência suficiente – e acabam por sair, sem ter feito nada de mal, mas sem ter conseguido nenhuma mudança. É preciso votar em pessoas que demonstram claramente ter coragem, para enfrentar o sistema vigente e os interesses corporativos.

Nota final importante, e para que não subsistam dúvidas. André Ventura não é competente (não se lhe conhece coisa ou obra nenhuma), não é sério (várias vezes acompanhou, apoiou e serviu gente corrupta – aliás a sua especialidade como advogado parece ser na área da evasão fiscal), não é coerente (diz constantemente uma coisa e o seu contrário), e não é corajoso (é, isso sim, um incendiário irresponsável). Há alternativas a quem está hoje no poder. Há alternativas nos partidos do regime, mas também em partidos novos. A mudança está nas nossas mãos.

Até breve.

Portugal em ditadura XV

“O governo pretende aprovar uma «lei especial» que o autorize a prescindir de normas constitucionais imperativas, para poder «intervir mais rapidamente nas restrições sanitárias em caso de descontrolo localizado da pandemia, sem precisar do decreto do Estado de Emergência».

Isto significa que, nos próximos meses e sem termo certo, que dependerá presuntivamente da evolução da pandemia, António Costa disporá de alguns dos nossos direitos fundamentais mais importantes conforme bem entender. Ficará, assim, ao seu inteiro critério, a nossa liberdade de circulação, de exercício profissional e de atividades comerciais, de ensinar e de aprender, de reunião, de exercício da cidadania e de gozo da vida privada. Como serão decisões suas as sanções e penas aplicáveis a quem incumprir as suas determinações”

Portugal em ditadura XII

“plataformas digitais, como a Netflix e o Youtube, assim como o sinal dos videojogos, podem vir a ser bloqueados para permitir assegurar a continuidade dos serviços de comunicações eletrónicas aos hospitais ou às forças de segurança”