Escândalo dá lição ao futebol – parte II

O tenista João Souza, que chegou a ser n. 1 Brasileiro e 69 do ranking mundial, foi banido para sempre do circuito profissional de ténis – e está assim impedido de jogar torneios ATP, ITF e Challenger.

Para além disso, foi condenado a pagar uma multa de $200.000. Tudo por ter ficado provado que manipulou encontros e vendeu resultados, bem como incentivou outros a fazê-lo.

A corrupção não pode ter lugar no desporto. Infelizmente ela está presente no maior dos desportos, o futebol, todas as semanas.

João Sousa faz história no Ténis

João Sousa fez história no Ténis Nacional ao vencer um torneio do ATP World Tour – no caso o ATP 250 de Kuala Lumpur na Malásia. É o primeiro português a conseguir uma vitória a este nível. Frederico Gil esteve perto no ATP 250 do Estoril em 2010.

Para os menos atentos, no ténis existem vários níveis de torneios profissionais. Os torneios Future são os mais baixos, seguindo-se os Challenger, os ATP 250, os ATP 500 e os ATP 1000. Depois, apenas os conhecidos torneios do Grand Slam.

No espaço de duas semanas, João Sousa conseguiu chegar às meias-finais do ATP 250 de São Petersburgo e vencer o ATP 250 de Kuala Lumpur. Desta forma arrecada 250 pontos na Malásia e 90 pontos na Rússia. Isto, depois de vencer os Challenger de Furth e Guimarães.

Quando sair o novo ranking do ATP Tour, João Sousa vai portanto deixar o lugar 77 e ficar á porta do Top-50, ocupando com toda a certeza a melhor posição de sempre para Portugal (pertencente a Rui Machado, 59°).

Esta vitória coroa uma época brilhante do tenista de Guimarães que teve momentos muito altos. Momentos esses que tiveram vitórias importantes mas também derrotas, como aquela frente ao número 1 do Mundo, Novak Djokovic, na 3ª ronda do US Open.

João Sousa tem talento. Isso ficou provado na final de Kuala Lumpur, quando João salva um match-point (a 5-4 no 2° set) com um passing shot, uma magnífica direita ao longo. Mas para ser um habitual Top-50 tem de trabalhar mais, principalmente a nível psicológico.

Dia histórico em Flushing Meadows com João Sousa

No dia anterior ao encontro disse que não poderia haver ilusões de vitória. João Sousa iria perder com Novak Djokovic. A única coisa que esperava era que o vimaranense ainda tivesse forças – depois de duas vitórias a 5 sets – para não ser atropelado pelo sérvio.

O João entrou muito bem no jogo, agressivo e determinado, movimentando-se muito bem no court, batendo pancadas muito fortes e com uma percentagem de primeiros serviços muito alta. Isso permitiu-lhe vencer alguns pontos espectaculares, ganhando o respeito de Djokovic e do público.

A boa performance do João era insuficiente para incomodar o número 1 do mundo, que joga num nível muito superior – algo que pude testemunhar ao vivo em Wimbledon. A intensidade e ritmo de jogo de Djoker está muito acima de qualquer jogador abaixo do top-5.

A facilidade com que o sérvio conquistava os seus jogos de serviço (muitos em 4/5 pontos) contrastava com a dificuldade do João em fechar os seus. O mesmo se pode dizer da execução das pancadas. A naturalidade das de Djoker era tanta quanto o esforço aplicado pelo João nas suas.

Na verdade João Sousa esteve muito bem, jogando o seu melhor ténis. Com poucos erros não forçados e muitos pontos bonitos. Uns ganhos outros perdidos, mas todos espectaculares. Não foi suficiente. O João foi atropelado por Djokovic, conquistando apenas 4 jogos em todo o encontro.

Mas não deixou de ser histórico: um português, de Guimarães, na 3a ronda do US Open, a defrontar o número 1 do Mundo. Coroando uma época de sonho em que esteve presente – e venceu muitos jogos – no quadro principal dos quatro Grand Slam.

No final, o resultado foi: Novak Djokovic 3-0 João Sousa (6-0, 6-2, 6-2). Uma vitória conquistada por Djokovic com todo o mérito. João Sousa não teve demérito absolutamente nenhum. Muito pelo contrário, dignificou o seu nome, o ténis português, e a vitória de Djoker.

Wimbledon 2013: Valeu a pena!

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Ontem cumpri um sonho, estive em Wimbledon, um dos torneios do Grand Slam de Ténis. Em 2012 falhei depois de 2 horas na fila. Este ano não facilitei, acordei às 4h30 da manhã para me juntar à fila (The Queue).

Quando cheguei a Wimbledon eram 6h30 e havia já 7.300 pessoas na fila. Deram-me o Queue Card número 7.390. Pelas 8h30 haviam já 11.000 pessoas na fila e a organização aconselhava (através das redes sociais) a mais ninguém ir.

Depois de 7 horas (!!) de espera na companhia de duas simpáticas espanholas (de Oviedo e San Sebastiam) que vivem em Southampton, consegui finalmente chegar à bilheteira, e comprar um bilhete para entrar e para os Courts 4 a 19.

Passadas 6 horas e muitos jogos vistos, foi possível arranjar o tão desejado bilhete para o maravilhoso Court Central, com capacidade para 15.000 pessoas. O que permitia ver os jogos em destaque do dia, envolvendo os melhores tenistas do mundo.

Tive vários privilégios e prazeres. Entre eles…

  1. Vi jogar o #1 ATP Novak Djokovic
  2. Vi jogar a #1 WTA Serena Williams
  3. Vi jogar a #1 WTA pares Roberta Vinci
  4. Vi jogar dupla #1 ATP pares Bryan/Bryan
  5. Vi jogar a histórica #84 WTA Kimiko Date (42 anos)
  6. Trouxe como recordação raquete do #27 ATP Benoit Paire
  7. Estive ao lado do famoso treinador Nick Bollettieri
  8. Assisti a 7 jogos, 2 dos quais no Court Central

Entre outros, também vi jogar  Nadia Petrova (#16 WTA), Dominika Cibulkova (#19 WTA), Tsevetana Pironkova (#72 WTA), Flávia Pennetta (#166 WTA), Katarina Srebotnic (#8 WTA Pares), Jeremy Chardy (#25 ATP) ou Lukasz Kubot (#130 ATP)

Para um fã (e ex-praticante) do ténis, valeram muito a pena 1 ano e 7 (loucas) horas de espera!

Mais títulos para Portugal, onde Desporto = Futebol

Enquanto Cristiano Ronaldo está triste e os tugas se debruçam sobre a paupérrima exibição da selecção Nacional de Futebol no jogo com o Luxemburgo, outros desportistas (estes, verdadeiros) conquistam títulos no anonimato.

Terminaram ontem os Jogos Paralímpicos de Londres 2012 e os atletas portugueses conseguiram três medalhas: uma de prata e duas de bronze. Para além disso 19 atletas (numa comitiva com 30) ficaram nos oito primeiros lugares.

Também no fim-de-semana Frederico Silva (10° da hierarquia mundial júnior) trouxe para Portugal o 1° título do Grand Slam em Ténis, depois de vencer a competição de pares do Open dos EUA, ao lado do britânico Kyle Edmund.

Mas por mais acontecimentos destes que haja, o desporto em Portugal continua e continuará a ser sinónimo apenas de Futebol. É um problema de mentalidades e isso não se resolve facilmente, nem por decreto. Depende de cada um.

Hoje tivemos 2 exemplos para o Futebol

Hoje foi um dia em que o desporto nos deu duas lições. E não, não me refiro ao Euro 2012 ou ao Futebol. Falo do Ciclismo e do Ténis.

O Poveiro Rui Costa venceu a Volta à Suíça. A primeira vez que um ciclista português vence uma prova do escalão mais alto da UCI.

Rui Costa, que já tinha vencido em 2011 uma etapa de montanha no Tour de França, bateu todos os principais ciclistas do pelotão.

No Ténis, David Nalbandian foi desqualificado na final do ATP de Queens, depois de ter pontapeado um placard e atingido um juíz.

Foi inocente, e nessa altura o argentino liderava, mas o Supervisor do ATP World Tour não teve complacências e desqualificou-o.

Duas reflexões:
1) O que seria se numa grande competição uma equipa de futebol (que estivesse a vencer) fosse desqualificada por um jogador dar um soco num árbitro?

2) Porque é que os portugueses continuam a ignorar grandes e exemplares atletas e a idolatrar futebolistas que muitas vezes dão tão maus exemplos?

O futebol come tudo, e não deixa nada

Há dias comecei assim um artigo de opinião no Sovolei desta forma: “Portugal continua a ser um país de futebol onde Cristiano Ronaldo e José Mourinho estão a anos luz de Nélson Évora, Vanessa Fernandes ou Armindo Araújo. Qualquer futebolista português de 3ª linha tem mais espaço nos média do que Miguel Maia, Frederico Gil ou Ricardo Costa

Num país em que só há dinheiro para o futebol, só há tempo de antena para o futebol, só se fala de futebol, só o futebol move multidões… é curioso como tem de ser o automobilismo, o judo, o ténis e outros a trazerem títulos e prestígio para Portugal.

Amanhã, as capas dos jornais desportivos deveriam trazer a fotografia de Helder Rodrigues e da sua Yamaha, dando destaque ao inédito pódio (3º lugar) do piloto português no Dakar. A par, deveriam também fazer referência a Ruben Faria (cuja missão era ajudar Cyril Despres, 2º classif) que terminou em 7º.

O #Mourinho ou o Villas-Boas do ténis

Há dias comecei um artigo de opinião desportiva desta forma: “Portugal continua a ser um país de futebol onde Cristiano Ronaldo e José Mourinho estão a anos luz de Nélson Évora, Vanessa Fernandes ou Armindo Araújo. Qualquer futebolista português de 3ª linha tem mais espaço nos média do que Miguel Maia, Frederico Gil ou Ricardo Costa. O insucesso total da selecção de futebol no Mundial 2010 foi mais falado do que a inédita conquista da Liga Europeia pela selecção masculina de voleibol“.

António van Grichen tem 32 anos e é o novo treinador de Ana Ivanovic. A sérvia que ocupa a 17ª posição no ranking WTA já foi a Nº1 do mundo depois de ter vencido o famigerado torneio de Roland Garros em 2008. De sublinhar também que o português foi responsável pela ascensão da bielorussa Victoria Azarenka, de desconhecida até ao top 10 do ranking WTA (actualmente é a Nº 10). Foi também sparring-partner de Jennifer Capriati – ex-Nº1, vencedora de 3 torneios do Grand Slam e medalha de ouro Olímpica.

Este é mais um exemplo gritante da falta de equidade dos meios de comunicação social portuguesa, bem como da falta de interesse dos portugueses por tudo o que não é ordinário, vulgar e comum. Tenho respeito e admiração por André Villas-Boas e pelo trabalho que está a fazer no meu FC Porto, mas não será o trabalho de Van Grichen igualmente meritório? Não será ele o José Mourinho do ténis? Merecia, no mínimo, mais atenção e é com certeza um exemplo a seguir.

O des(prezo)porto nacional

Tal como digo na minha apresentação sou um adepto do desporto. Obviamente que desde criança o futebol preenchia grande parte dessa paixão, mas logo na juventude aprendi a apreciar outras modalidades quando fui atleta federado de Andebol e Ténis. Continuei a gostar muito de futebol mas comecei a detestar a “bola”, ou seja, a “espuma dos dias” à volta do futebol. Além disso tomei consciência da sua realidade: a falta de respeito, de civismo, de moral, de ética. A corrupção, o compadrio, a promiscuidade. Tenho por isso vindo a “desligar” do futebol e dedicar-me mais a outras modalidades como o voleibol.

Tenho por isso dedicado mais tempo a pensar nas modalidades ditas amadoras, no quão importante são para o desenvolvimento da sociedade (em particular da juventude) e no desprezo a que são votadas por parte dos responsáveis governativos de hoje. Preocupa-me sobremaneira o facto de os sucessivos Governos darem apenas e só atenção ao Futebol, que ainda por cima, é hoje mais um negócio do que um desporto (pensando bem, talvez seja mesmo essa a razão de tal atenção).

Ao contrário do futebol as outras modalidades praticadas em Portugal passam por imensas dificuldades, numa altura de crise económica e financeira em que se se torna extremamente dificil captar apoios, investimentos ou patrocínios. Consequentemente vários clubes fecham as portas, deixando milhares de pessoas sem possibilidade de desenvolver a sua actividade física, desportiva e competitiva.

Ao contrário do futebol as outras modalidades ainda podem ser uma mais valia para a sociedade. Enquanto que no “desporto rei” se cultiva a inveja entre clubes, a falta de fair-play, o ódio entre adeptos, a importância apenas do dinheiro, a imagem, o compadrio… nas outras modalidades ainda se cultiva o espírito de grupo, de sacrifício, a solidariedade, o esforço, o trabalho, o mérito, a carolice, a amizade.

Mesmo havendo tantos motivos para apostar e investir nas modalidades ditas amadoras, dedicando pelo menos tanto tempo a elas como ao futebol, os responsáveis governativos parece que não vêem ou não querem ver esta situação (e o pior cego…). Os sucessivos Secretários de Estado do Desporto têm-se focado apenas no futebol, e até imiscuido em assuntos que não lhe dizem respeito, tendo por consequência resultados catastróficos. Mas ultimamente parece haver um objectivo comum e indisfarçável: querem, à saída do Governo, conquistar lugar nas estruturas do futebol.

Temos provas de que há atletas de várias modalidades tão ou mais talentosos que os do futebol. Atletas esses que podem elevar bem alto o nome de Portugal, tornar-se modelos da juventude e contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e rica. Mas insistimos em deixar cair esses atletas, desperdiçando assim um capital que eles nos podem oferecer. Temos, nas mais diversas modalidades, imensos atletas com potencial para crescer e estar entre os melhores. Infelizmente não têm condições para evoluir, nem oportunidades para se mostrar. Tudo por falta de aposta e investimento (financeiro e humano), todo ele canalizado para o futebol.

Laurentino Dias, profissional da política (Licenciado em Direito, deputado desde 1987), é o actual Secretário de Estado do Desporto, que tem passado os seus mandatos preocupado com o futebol. Algo que se torna evidente com a intromissão indevida no Caso Carlos Queirós, que nada tem que ver com desporto. No entretanto, várias atrocidades são cometidas na gestão das outras modalidades e nada se ouve ou vê do responsável máximo pelo desporto em Portugal. Vejamos o que se passa em 3 das modalidades mais praticadas.

No ténis (20.000 atletas federados), alterou-se recentemente o regulamento das bolsas de apoio à alta competição, obrigando os atletas a participar no Campeonato Nacional, sob pena de perda de 40% do subsídio do Estado. Ora, é natural que os melhores jogadores nacionais não estejam presentes. É até um bom sinal pois significa que estão a lutar pelos rankings internacionais, competindo no estrangeiro e levando longe o nome do país. Além disso estão a fazer pela vida em torneios com prize money (ao contrário do Camp. Nacional que não tem prémios).

No atletismo (15.000 atletas federados), a respectiva Federação aprovou recentemente um novo regulamento do Campeonato Nacional de Clubes, que pelo visto viola regras comunitárias. Além do mais foi aprovado em cima do início da temporada, altura em que já vários clubes tinham contratos firmados com atletas para 2010/2011. O novo regulamento pode acabar com vários clubes e baixar o nível competitivo nacional. Isto, aliada à diminuição das já pequenas bolsas de alta competição, terá repercussões no futuro da modalidade.

No voleibol (40.000 atletas federados), a própria Federação despreza a modalidade. A gestão é feita segundo uma estratégia pessoal de poder e não tendo em vista o desenvolvimento dos intervenientes. Todos os anos há clubes das principais divisões que desistem da competição e outros que fecham as portas. Muitos tiram financiamento à formação de jovens para segurar a equipa sénior, hipotecando aos poucos o futuro. O campeonato cada vez tem menos participantes e a competitividade diminui, baixando por consequência o nível de competências.

Ultimamente as modalidades ditas amadoras têm conseguido conquistas internacionais que orgulham todos os portugueses. Conquistas essas que deviam envergonhar os futeboleiros que ganham milhões e não se esforçam nem metade. Os clubes e a selecção de Hóquei continuam a ser potências mundiais. O Sporting CP venceu a Taça Challenge em Andebol. O SL Benfica foi Campeão Europeu de Futsal. Treinadores de Basket lusos (Luís Magalhães, Mário Palma) dão cartas no Campeonato do Mundo. Vanessa Fernandes, Naide Gomes e Nélson Évora conquistam medalhas nos mundiais de Atletismo e nos Jogos Olímpicos. A atleta letã, Ineta Radevica, do FC Porto sagrou-se Campeã Europeia do salto em comprimento. A selecção masculina de Voleibol fez história ao conquistar a Liga Europeia.

Tudo isto contrasta com os casos “Saltillo” e “Queirós”, com os socos de João Pinto, Sá Pinto e Scolari, com os resultados dos recentes Euro 2008 e Mundial 2010 (mesmo com individualidades fantásticas e prémios astronómicos, a selecção de futebol desiludiu). E nem os bons resultados dos idos Euro 2004 e Mundial 2006 salvam o futebol, porque isso deve-se apenas e só ao trabalho de um homem insigne: José Mourinho. Ele que montou no FC Porto a espinha dorsal de uma selecção que jogava de olhos fechados.