Por hipocrisia, cegueira ideológica ou pura ingenuidade, grande parte do país — especialmente a chamada opinião publicada, que pouco tem a ver com a verdadeira opinião pública — continua a celebrar o 25 de Abril como se fosse, de forma incontestável, a festa da Democracia.
Mas é preciso refletir com atenção: votar não é, por si só, sinónimo de Democracia. Ter liberdade para falar (desde que seja em casa ou no café, pois no local de trabalho já é outra história) também não basta para afirmar que vivemos plenamente num regime democrático.
Não existe Democracia sem Igualdade. E Portugal, hoje, está profundamente desigual. Desigual para mulheres, jovens, imigrantes e todos os que vivem à margem do privilégio.
Não existe Democracia sem mobilidade social. E neste país, é cada vez mais difícil nascer humilde e aspirar a ter uma vida confortável e estável. O elevador social está avariado há muito tempo. E o formato, as políticas e o estado da Educação são a principal causa.
Não existe Democracia sem Justiça. Mas aqui, os poderosos usam os tribunais como um jogo de tempo, arrastando processos até à prescrição, enquanto o cidadão comum vê os seus direitos ignorados, e não tem armas para se defender.
Não existe Democracia sem Separação de Poderes. E o que se vê é uma promiscuidade clara entre poder Política, Executivo, Legislativo e Judiciário – com uma elite (a que chamo de “Cúpula de Lesboa” que circula entre cargos como se fossem cadeiras num jogo político bem coreografado.
Não existe Democracia sem uma Imprensa Livre. E no entanto, os principais meios de comunicação estão profundamente comprometidos com partidos, interesses económicos e o aparelho do Estado – a tal “Cúpula”.
Curiosamente, somos um país que esqueceu a sua independência (24 de Junho de 1128), e deixou de celebrar a reconquista da sua soberania (1 de Dezembro de 1640), mas permanece obcecado em comemorar uma mudança de regime que, embora tenha sido absolutamente necessária, e tenha posto fim a uma guerra e a um colonialismo insustentável e sem sentido, ainda não se traduziu numa verdadeira Democracia.


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