O Portugal que não quero (III)

Depois da vergonhosa participação da selecção nacional no campeonato do Mundo de futebol (tanto na qualificação como na fase final) veio Gilberto Madaíl dizer que a equipa cumpriu o objectivo mínimo, que foi eliminada contra uma equipa teoricamente superior e congratulou-se também pelos desaires precoces de França e Itália.

Eu pergunto: isto é atitude de um verdadeiro líder? A atitude deste senhor é o exemplo do que há de pior neste país. O típico portuga também só trabalha para os mínimos, resigna-se com a derrota e fica contente com o mal dos outros, para desculpar o seu falhanço.

Dizemos que metade da população vive à custa de subsídios do Estado, mas esquecemo-nos que muitos dos que têm emprego vivem à custa do “subsídio” da empresa. No seu dia-a-dia, o típico portuga não se esforça para trabalhar mais e melhor, para trazer valor acrescentado à empresa, para conquistar novos patamares e novas vitórias.

Assim sendo, fazendo apenas os serviços mínimos, este ser quase acéfalo só está a trabalhar para levar o ordenado (subsídio) ao final do mês. Não contribuindo em nada para um país melhor e em crescimento.

Humildade e discrição fazem campeão

Muito havia para dizer – e concerteza será dito – sobre a participação da selecção de Portugal no Mundial 2010. Eu vou apenas abordar aqui duas questões: Mentalidades e Escolhas. Deixo as questões técnico-tácticas para os habituais treinadores de bancada.

João Pereira foi preterido. O defesa direito em melhor forma ficou em casa porque Queiróz preferiu Miguel – arruaçeiro e criador de mau ambiente no balneário – e Paulo Ferreira – em nítida fase descendente da carreira e com poucos jogos esta época. Pasme-se quando Ricardo Costa foi o escolhido para os dois jogos mais decisivos.

João Moutinho também não fez parte das escolhas. Queiróz não levou plano B para a mais importante posição em campo: a de construtor de jogo. Sem Deco – não por lesão mas por opção – a equipa ficou sem nº 10 (já não tinha extremos nem lateral direito) e deixou a tarefa de alimentar os avançados ao heróico Fábio Coentrão.

O Saldo final foi: 4 jogos, 1 vitória (contra equipa equivalente ao Lichenstein), 0 golos marcados (os 7 à Coreia para mim não contam); 1 golo sofrido. Estiveram como na qualificação. Partidas sofríveis em que nunca a equipa quis vencer. Acabou por ganhar aos marretas e perder contra os outros.

Nada disto era difícil de prever. Principalmente quando se anda a brincar aos futebóis, quando se coloca a descontracção à frente do trabalho, a displicência à frente da exigência, a fé à frente do querer. Quando se confiam tarefas sérias a meninos em vez de homens, o resultado só pode ser este.

No meio disto tudo se vê como a humildade e discrição fazem o campeão. Os melhores jogadores de Portugal foram os mais humildes e menos mediáticos: Eduardo, Fábio Coentrão, Bruno Alves e Raúl Meireles. Estranho não é?… Para mim não.

O futebol mudou muito…

O assunto é futebol, não estivessemos nós em ano (e mês) de campeonato do mundo. Mas é um futebol diferente, pelo menos não é igual ao futebol de que gosto e que estava habituado. É diferente dentro e fora do relvado.

Dentro do relvado, parece que já não se ganha jogos com esforço, trabalho de equipa e golos. Isto, a julgar pelas escolhas de Queiróz – que escolheu mais jogadores de propensão defensiva do que ofensiva para disputar o Mundial – e também pela falta de empenho e excesso de individualismo dos atletas.

Nas bancadas também tudo agora está mudado. Já não se ouvem os “aaahh” – quando o central corta um excelente passe do médio para o avançado – os “uuuhh” – quando o avançado falha o golo à boca da baliza – ou até o “goooolo” quando a bola toca as redes. Agora só se ouve o “pooohhh” das irritantes gaitas.

Além disso, é engraçado ver como são diversos os espectadores. Olhando para as bancadas só se vêem telemóveis e câmaras em riste para gravar o momento. É raro ver alguém a olhar para a bola, para o jogo. Está é tudo a gravar a imagem do CR7 ou do estádio ou do cenário. A maioria não está lá porque aprecia futebol, está para dizer que esteve.

Brincar aos mundiais, prostitutas e hóteis de luxo

A nossa selecção é a imagem do país e dos portugueses. Muito espectáculo, muito barulho, muito aparato e pouco trabalho, pouco esforço, poucos resultados. Enquanto outras selecções – que querem ser campeãs do mundo – estão concentradas a treinar, nós andamos a brincar aos mundiais.

Com as escolhas de Queiróz já não vale a pena perder mais tempo. Todos os dias a equipa tem jogadoresno estaleiro” e ainda não conseguiu fazer um treino com os 23 jogadores. A consequência é, a 3 semanas da competição, ainda não termos uma equipa base, entrosada e rodada. Vamos levar jogadores que não jogam há 3, 4, 5 meses e portanto não têm ritmo competitivo.

Além disto, em vez de os jogadores estarem focados no Mundial 2010 foram de férias: vê-se nas revistas que Liedson foi até ao Brasil, CR7 foi navegar para Saint-Tropez, etc. Como se não chegasse ainda andam todos em actividades lúdicas para distrair e desconcentrar ainda mais: homenagens a Madaíl na Câmara da Covilhã, programas de incríveis na TV, peladas com a criançada, enfim.

Pior do que tudo é que o típico portuga – aquele que acha que ser patriota é ter uma bandeira na janela ou na antena do carro, em vez de pagar os seus impostos e cumprir os seus deveres de cidadão – gosta deste espectáculo todo e acha que vamos ser campeões assim, sem trabalho.

É engraçado como no final de exibições paupérrimas (como a que fez a selecção contra Cabo Verde) o tuga diz que a selecção não vale nada. Mas depois basta ver umas imagens do João Garcia na visita ao estágio, ou umas fotos dos meninos a jogar paintball, para achar que “sim senhor, estamos fortes e vamos ser campeões“.

Alguns dizem-me que, se não gosto tenho bom remédio, não apoio. Mas não é bem assim. É que eu (e todos vós) estou a pagar 800 €/dia a estes meninos (que ainda por cima ganham entre 100.000 e 1.000.000 €/Mês nos seus clubes). E não só a eles. Estou a pagar para os Madaís e Cª iram para a África do Sul brincar aos hotéis de 5 estrelas, às prostitutas de luxo e aos jantares de 100€/cabeça.

O típico portuga

Depois da publicação das imagens em que se José Mourinho a despedir-se de Marco Materazzi lavado em lágrimas, pôde ler-se nos comentários às notícias muitas coisas. De entre elas, os típicos tugas…

“Lágrimas de crocodilo! É tudo encenado! Cada vez mais farto deste arrogante! Nem acredito que o Real Madrid contratou este pseudo-treinador, mas também têm lá um pseudo-jogador: o Reinaldo que não joga nada! Daqui a 2 anos, Jorge Jesus será o melhor treinador do mundo! Carrega Benfica!”

“Se o Mourinho desse uma bufa, os totós que o admiram e endeusam vinham logo para aqui a dizer que era uma bufa genial e a mais bem pensada de todas… santa paciência… povinho mediocre e pequeno mesmo.”

“Um português e um italiano,supostos machos latinos, ambos a ganhar milhões com a indústria do futebol.. Já não há decência?…”

“O Mourinho ganhou a Taça? E o que ganhou o jogador argentino Milito? Foi ele que saiu do autocarro e foi lá á frente fazer os 2 golos. Esse sim é que merece todo o mérito.”

“Mourinho nao ganhou nada para Portugal… Nao vejo país nenhum festejar, porque um treinador do país, treinou uma equipa estrangeira e ganhou. Porque razao os portugueses deveriam festejar?”

É também por aqui que se vê o porquê do nosso país estar neste estado, e ser governado por incapazes, incompetentes e corruptos. É que são estes imbecis (e acreditem que há muitos) que vão lá votar neles.

Desporto em tempos de crise, Mourinho e futebol

Já em diversas ocasiões tive oportunidade de criticar a inexistência de uma verdadeira política desportiva em Portugal. Neste país o desporto resume-se ao futebol, e é visto como um negócio. Em vez disso deveria ser visto como uma forma de a população se manter de boa saúde, ter uma vida saudável, e também de os jovens poderem crescer aprendendo os valores da exigência, do trabalho, do espírito de grupo e da competitividade.

Hoje, no blogue convidado do jornal Público, Colectividade Desportiva, o Prof. José Manuel Meirim (reconhecido especialista desportivo em Portugal) publicou um excelente artigo que deveria ser lido por todos, principalmente pelos responsáveis do governo, das federações e das associação desportivas. Entitulado Desporto em tempos de crise, de Mourinho e de futebol, pode ser lido aqui.

Os milhões benfiquistas (II)

No final do ano passado, neste post falando dos “milhões” Benfiquistas para novas contratações, dizia eu que me parecia “muito duvidosa a forma como este dinheiro todo é conseguido“. Pelos vistos, não fui só eu que tive dúvidas. Também a Inspecção Geral de Finanças e a Polícia Judiciária as têm. Senão vejamos

Acordo com a Câmara de Lisboa valeu ao Benfica 65 milhões de euros: «A investigação conclui que, ao aprovarem o referido contrato-programa, a Câmara e a Assembleia Municipal de Lisboa “instrumentalizaram a EPUL”, fazendo-a assumir encargos directos de 18 milhões de euros na prossecução de fins estranhos ao seu objecto social. Mas, além dos 18 milhões, o Benfica encaixou mais 47, pois o contrato-programa ainda lhe permitiu vender um terreno à EPUL e receber outro da Câmara de Lisboa»

Brincar com coisas sérias


Hoje, os clubes de futebol são empresas que movimentam milhões de euros. Estão cotados em bolsas e têm obrigações iguais às de qualquer outra empresa. No entanto continuam a ser geridos a brincar, como se de uma associação ou clube recreativo se tratasse. Sem profissionalismo e exigência. Esquecendo que são empregadores e deles dependem centenas de pessoas.

Colocam-se em lugares de gestão e de decisão, pessoas que não têm qualquer formação (e aqui não falo só em formação académica, falo também de formação pessoal). Como se o seu nome ou o seu curriculum de troféus (que ganharam como jogadores ou treinadores) lhes desse capacidade para gerir seja o que for.

A maioria deles nem sequer sabe gerir o próprio dinheiro. Daí vermos muitos ex-jogadores sem “chêta”. Enquanto jogavam e ele “pingava” era gastar à “tripa forra” e depois… enfim. Uns têm cafés e restaurantes, os outros dependem dos clubes, que lhes dão cargos de treinadores de iniciados.

O exemplo de Sá Pinto é flagrante. Mais ainda quando se sabe do que se tinha passado há uns anos atrás com Artur Jorge. Diga-se que Liedson também não é, nem nunca foi, um santo. O que sería se numa empresa cotada em bolsa (pensarei num BES, PT, GALP, Soares da Costa, sei lá…) um director andasse ao soco com um funcionário?

Os milhões benfiquistas


Quem tem memória lembra-se que em 2001 o governo de António Guterres fazia aprovar aquilo a que chamava de “reforma fiscal” e que visava mais justiça e equidade. Um conjunto de medidas que faria subir ainda mais as receitas dos impostos e combater a fuga e fraude fiscal. Mas foi na mesma altura, que o ministro das finanças de então fechava os olhos a uma dívida monstruosa do SL Benfica que já vinha de há 2 anos atrás.

Isto era (e ainda é) absolutamente intolerável num país que se quer desenvolvido e democrático. Custava a acreditar na hipocrisia do governo e na discriminação com que o PS tratava o contribuinte comum. Este que, ao mínimo descuido, era “apanhado”. É que este “perdão” ao SL Benfica significava que o Estado estava – com o nosso dinheiro – a subsidiar a compra de jogadores, que não poucas vezes se fez (e ainda faz) com valores imorais.

Não é demais lembrar que o que estava aqui em causa eram muitos milhares de contos de impostos dos trabalhadores do clube, que foram retirados e não entregues aos cofres do Estado. Um crime fiscal de enorme dimensão. Um crime pelo qual muita gente foi (e ainda é) condenada e presa.

Mas o regabofe continua para os lados da Luz. Apesar do passivo de 500 M€ o clube da águia continua a contratar jogadores como se não houvesse amanhã. Isto apesar de estar a ter a melhor época dos últimos 15 anos.

No início da época o Benfica investiu cerca de 30 M€, mas agora a conta corrente já vai em quase 50 M€. Algo nunca antes visto no futebol português. Aliás, tendo em conta também o Sporting CP, Lisboa lidera o mercado de transferências europeu algo inacreditável se tivermos em conta que somos dos países com mais dificuldades da UE.

Tudo isto é imoral, e parece muito duvidosa a forma como este dinheiro todo é conseguido. Ao ponto de fazer com que pessoas como Pinto da Costa (sería talvez a última pessoa que pensaríamos ouvir sobre este assunto) digam, com muita razão, que “não há petróleo no Porto”.