Demissão é a única solução, a bem da credibilidade do Governo

Em Junho 2011, ao saber dos nomes para o Governo disse que tinha ficado com um sentimento agridoce. Isto porque, se por um lado me agradaram muito algumas escolhas, outras desiludiram-me na mesma proporção“.

Referindo-me às más, escrevi “Não estava à espera que Passos Coelho cedesse à “máquina” do partido. Era um forte e importante sinal que tinha dado. E para piorar são nomes tão fracos e pouco consensuais como Teixeira da Cruz e Miguel Relvas“.

Estas duas figuras “de proa” do PSD são daquelas que, a cada 5 minutos em que aparecem na televisão em representação do partido, tiram 100 votos. Em cada frase proferida, na defesa de qualquer política, tiram credibilidade à mesma, por melhor que seja“.

Mas a escolha destes dois nomes tinha uma razão de ser. Passos Coelho devia-lhes o facto de ter sido eleito Presidente do PSD, e consequentemente candidato (vencedor) a Primeiro-Ministro de Portugal.

Principalmente a Miguel Relvas. Exímio numa arte a que alguns chamam “cacique”. Arte essa que, como sabemos, é indispensável dominar para se vencer eleições internas nos partidos políticos.

Ainda assim, eu não o faria. O Governo, e um Ministério é coisa séria. Mas dando isso de barato, e oferecendo o benefício da dúvida, a verdade é que se tem confirmado que Relvas é um “cancro”.

Daqueles “cancros” que já “mataram” outros governos, e só não mata este por duas razões: 1) Portugal está na situação que se conhece; 2) O Presidente da República é alguém com sentido de Estado.

Compreendo que seja complicado. Porque além de Passos Coelho dever algo a Miguel Relvas, é também seu amigo. Mas podia aproveitar mais esta “trapalhada” (adjectivo brando) para o subsituir.

Eu no lugar de Miguel Relvas, demitia-me imediatamente. Se não o fizesse, eu no lugar de Passos Coelho, pedia-lhe para se demitir. Demissão é a única solução, a bem da credibilidade do Governo.

Serviço público (?!) na Antena 1

A Antena 1, estação de rádio pertencente à RTP, tem um programa semanal que se chama “O esplendor de Portugal“. Naquela hora, Rui Pêgo e os seus 3 convidados permanentes lançam “um olhar particular sobre Portugal e os portugueses“.

Desconheço por completo os 3 comentadores. Quem são, o que fazem, em que acreditam, que capacidades lhes são reconhecidas. Apenas sei que um é espanhol, o outro italiano e a única mulher, sensata e de voz doce, é portuguesa.

O que ali se houve da boca dos dois “estrangeiros a residir em Portugal” são as maiores bojardas. Bêbadas de demagogia e desonestidade intelectual. Tendo por base a mais pura ignorância e o mais extravagante desfaçatez.

Várias vezes comentei no twitter/facebook as coisas que lá ouvia, à 5ª feira. Hoje apeteceu-me dedicar-lhe um post no blogue. São absolutamente inacreditáveis as coisas que esta gente, paga com o dinheiro dos nossos impostos, diz.

Rui Pêgo questionou os comentadores sobre a construção da Barragem do Tua que servirá milhares de pessoas, e o facto de o Alto Douro Vinhateiro correr o risco de ser desclassificado como património mundial.

O imbecil espanhol disse: “A barragem é da EDP. Se não se vendesse a EDP – coisa de animais, de chimpanzés – achava que era mais importante a barragem. Mas se for para vender e dar dinheiro aos alemães prefiro o património“.

Já o chéché italiano disse: “Que interessa o património se as pessoas não têm água para lavar a cara e para beber” […] “Se vai destruir um campo muito bonito, tem de se ter isto em conta, mas é fácil, faz-se a barragem mais para lá”.

Eu não sabia que em Itália a água das barragens servia para lavar a cara e beber, ou que lá se conseguia deslocar “mais para lá” uma barragem (das mais complexas obras de engenharia). Ignorava que em Espanha há o hábito de insultar o próximo e de ser sectário.

É isto o serviço público? Gostaria de ouvir sobre isto alguns jornalistas da estação, que tenho em boa conta. Como Natalia Carvalho, Susana Barros ou Maria Flor Pedroso.

O Daniel Oliveira não entende. Eu explico.

Segundo o Daniel Oliveira, Sócrates disse o óbvio: “As dívidas dos Estados são, por definição, eternas. As dívidas gerem-se“. Portanto o Daniel concorda com Sócrates quando este diz que as dívidas não são para ser pagas.

Assim sendo, vou já amanhã ao banco em que o Armando Vara é administrador (ainda é?) pedir um empréstimo de 10 M€ para comprar aquela casa que está à venda na Quinta do Lago (a do Duarte Lima). Afinal, não preciso de pagar.

Neste momento está o Daniel a vociferar que uma coisa não tem que ver com a outra porque “ao contrário das pessoas, os Estados não morrem“. Ora, a minha família também não. Continuarão a pagar os meus filhos, netos, bis-netos…

Serei irresponsável, gastando dinheiro que não tenho, numa coisa que não preciso. E onerarei as gerações futuras da minha família. Farei portanto, exactamente o que Sócrates fez: Comprometer o futuro, onerando os jovens portugueses.

Diz o Daniel que a dívida deve ser mantida e gerida se “os juros praticados são suportáveis” e se “o crescimento económico permite cobrir os custos da dívida“. Eu discordo, mas nem por aqui o Daniel Oliveira consegue ter razão.

Há já 15 anos que, em Portugal, não há crescimento económico que faça frente à dívida. E nos últimos anos os juros praticados são insuportáveis. Daí ser perfeitamente absurdo continuar a cometer o erro de contraír mais dívida.

O Daniel não entende a indignação que se instalou após as declarações do ex-PM. Eu explico: Sócrates diz que a dívida não é para pagar, mas os Portugeses estão a sentir na pele (e no bolso) exactamente o contrário, estão a pagá-la.

De resto, caro Daniel, quero dar-lhe os parabéns por ter conseguido colocar na mesma frase as palavras “Sócrates“, “honestidade intelectual” e “rigor“. Nem os cães de fila socratistas, algum dia tiveram a audácia de o escrever.

Comunicação “dita” social dos lobbies de milhões

Artigo de opinião que escrevi para a rúbrica “Zona 7” do Sovolei:

Em pleno século XXI, e num país que se diz integrado na União Europeia, custa-me ver certo tipo de coisas da comunicação “dita” social. Ela, que tantas vezes serve para denunciar (e bem) certos tipos de discriminação e sectarismo, é a primeira a fazer exactamente o mesmo, em relação a certas pessoas, entidades, sectores, temas, assuntos ou questões.

A comunicação “dita” social generalista ocupa muito do seu tempo com futebol mas não dá qualquer importância a outros desportos. O que se vê na RTP-2 uma vez por semana é apenas por obrigação de serviço público, e o que se vê na SIC uma vez de 2 em 2 meses é apenas o aproveitamente de ódios e rivalidades entres alguns imbecis adeptos dos grandes clubes.

Nenhum dos canais de televisão ou dos jornais de tiragem nacional generalistas dedica um minuto ou uma linha ao Voleibol, o 2º desporto mais praticado em Portugal, logo a seguir ao futebol. Já os jornais desportivos, uns dedicam a esta modalidade 50 linhas por semana, outros nem isso sequer. No entanto, dedicam páginas inteiras ao Golf e às Apostas, por exemplo.

O que causa esta minha revolta foi há dias ter visto no Telejornal da RTP, em horário nobre, uma notícia sobre a Selecção Nacional Masculina de Voleibol, que disputa a Liga Mundial 2011. Os menos atentos perguntarão porque estou então revoltado? É que a notícia só apareceu porque a comitiva ficou retida num aeroporto devido a uma nuvem provocada por um vulcão.

Ou seja, nem antes, nem durante, nem depois da notícia, foi feita alguma referência ao facto de a Selecção estar a disputar uma das mais importantes competições mundiais. Nem sequer foi dito que nessa altura estava na luta pela qualificação para a fase final, por ter já conseguido importantes vitórias sobre selecções bem mais cotadas e poderosas.

É incrível como pôde a mais antiga e importante estação de televisão de Portugal, dar uma notícia sobre o facto de uma Selecção Nacional estar retida por causa de uma catástrofe (e isso sim é que interessa para as audiências), sem sequer se ter dignado a saber o que ali fazia. O mesmo aconteceu quando essa mesma Selecção venceu a Liga Europeia em 2009.

No fim-de-semana que passou, estiveram em Portugal – numa “clinic” na praia de Canidelo em V.N. Gaia – Larissa e Juliana. As duas brasileiras são as melhores atletas de sempre do voleibol de praia, com vários títulos de Campeãs Mundiais, o mais recente conquistado há bem pouco tempo. Não houve um orgão de comunicação “dita” social que divulgasse isto.

Mas não tenho dúvida que, se aterrasse amanhã, no aeroporto de Lisboa, do Porto, de Faro, ou até de Beja, a namorada do Cristiano Ronaldo, iriam estar lá para a ver chegar todas as televisões, jornais e revistas. Os mesmos que, no(s) dia(s) seguinte(s) iriam encher minutos e páginas a fio com reportagens e imagens sobre coisas que não interessam nem à própria.

É esta a comunicação “dita” social que temos em Portugal. Uma comunicação “dita” social que foge ao seu dever principal (e também a sua razão de existir) de informar, preferindo ser veículo de divulgação de interesses e de lobbies milionários. Sim, porque o Futebol é isso mesmo, apenas um negócio que dá milhões a muita gente, porque de desporto já tem muito pouco.

Estadistas de 3ª categoria

De vez em quando a comunicação “dita” social gosta de ir “ao fundo do baú” buscar uns políticos “afastados”, e pedir-lhes opinião sobe certos assuntos. Fá-lo no sentido de tentar credibilizar, certas opiniões, já que os políticos no activo não o conseguem.

Vão buscar políticos que já não têm ambição/possibilidade de voltar ao poder, porque assim julgam dar uma isenção extra à sua opinião. E pensam que as pessoas são parvas e não percebem que, na maioria das vezes, essas opiniões são concertadas com os partidos.

Basta estar atento, verificar quais as posições/negócios/funções que essas “mentes livres” desempenham e juntar 2+2, para perceber se a sua opinião é mesmo livre e espontânea ou se é um favor que fazem a quem lhes arranjou essa mesma posição/negócio/função.

O mais engraçado é que qualquer um serve para interpretar este papel mesmo que tenha sido uma nódoa – tendo acções e posições vergonhosas – quando esteve na política activa. A maioria dos portugueses têm memória curta e selectiva, e há que aproveitar isso mesmo.

Pois por mim, esses senhores que foram políticos de 3ª categoria e que agora vêm falar como se fossem grandes estadistas, podem mugir à sua vontade. Entra-me a 100 km/h e sai-me a 1.000 km/h. Não têm capacidade, credibilidade, ou sequer moral para opinar sobre certos temas.

Sócrates na SIC: Entrevista ou Tempo de Antena?

A entrevista de José Sócrates ontem na SIC, foi uma repetição daquela que já tinha feito com Ana Lourenço em Junho de 2009. Lembre-se que nessa altura o PM vinha de uma entrevista na RTP com Judite de Sousa, em que ficou tão à rasca que até insultou a jornalista.

O que a SIC transmitiu ontem pareceu um tempo de antena e não uma entrevista. Isto porque Ana Lourenço fazia perguntas excelentes para Sócrates discorrer sobre o que lhe convinha, e dava-lhe liberdade para o fazer durante largos minutos sem interrupção, mesmo quando mentia descaradamente.

Por falar em mentir, das duas uma, ou Ana Lourenço estava muito mal preparada e não conhecia os temas, ou então não teve coragem (ou ordem?!) para confrontar Sócrates com várias mentiras e incoerências que este proferiu durante todo o programa.

Pude no entanto rir um pouco com algumas das tiradas do líder do PS. A certa altura Sócrates disse “Não estou agarrado ao poder” e logo de seguida “para mim a consequência de uma crise política é que o país não se pode comprometer com parceiros internacionais“. Demitir-se? Nunca!

O Primeiro-Mentiroso… perdão, Ministro é tão cara de pau que diz partilhar o sofrimento dos manifestantes. Eu gostava de saber o que é que ele tem em comum: também está desempregado? também trabalha a recibos verdes? também ganha o ordenado mínimo?

Para terminar em grande, Ana Lourenço dá a novidade do acordo com os camionistas. Essa não lembrava a ninguém, mesmo que estivessemos a ver o canal “Sócrates TV” com Sócrates a ser entrevistado pelo próprio Sócrates. Porque não puseram José Gomes Ferreira como entrevistador?

Rádio 15-0 Televisão

Muitos pensam que este é cada vez mais o tempo da TV, em que tudo o que passa no ecrã se torna poderoso, nem que seja por apenas 15 minutos. Para mim, este tem sido o tempo da rádio. Passo a explicar olhando para os canais abertos de Portugal.

SIC e TVI são nitidamente estações onde se produz apenas e só lixo televisivo, que serve para satisfazer e estupidificar o já de si estúpido e inculto povo. A grelha de programas está pejada de novelas, reality shows e séries de gosto duvidoso.

A RTP 1 tem, supostamente, uma obrigação de serviço público. Tenta transmitir alguns programas de debate, entrevistas e reportagens. O problema é que além de os temas serem manietados, os convidados são sempre os mesmos e não trazem novidades.

Obviamente que, para competir com SIC e TVI, a RTP 1 também transmite novelas (no caso brasileiras, cada vez de menor qualidade, porque SIC paga mais pelas melhores) e reality shows (neste caso de melhor qualidade, talvez dado a alguma reserva moral).

A RTP 2 tem uma grelha melhorzinha, mas ainda assim com alguns programas de gosto duvidoso. Bons documentários, algumas séries aceitáveis. Mas a má interpretação do serviço público, e a escassez de meios faz com que o canal tenha uma grelha pobre.

Ao contrário da TV, a Rádio tem programas de grande qualidade. E falo apenas das que ouço frequentemente. Há excelentes entrevistas a gente desconhecida do público em geral, mas com grande categoria. Relevo o programa “Pessoal e transmissível” de Carlos Vaz Marques.

Os programas de debate político são mais interessantes, pela escolha dos temas e pelos moderadores mais capazes e independentes. Ainda assim pecam nos convidados que, tal como na TV, são quase sempre os mesmos e com o mesmo discurso.

Os programas humorísticos são muito bons, com humor inteligente e com piada. Talvez a falta de imagem evite o humor fácil e imbecil das TVs e obrigue os autores/intérpretes a aprofundar mais o seu trabalho. Destaco o “Governo Sombra” e o “Tubo de ensaio” de Bruno Nogueira.

Também no desporto a Rádio supera a TV. Não só com programas de culto como “Bola Branca”, mas também com comentário sério e conhecedor, que foge ao discurso fácil da corrupção e das arbitragens. Aconselho “Os grandes adeptos” e “Jogo Jogado”.

A informação é de longe melhor do que a TV. É precisa e objectiva, abordando os temas realmente importantes. Talve porque tem de ser feita em 10 minutos (e não em 1 hora) deixa de lado a “espuma dos dias” e não fica a “encher chouriços” com notícias parvas.

As reportagens da Rádio são de uma qualidade que faz com certeza inveja à TV. Fazem-se trabalhos de fundo sobre temas interessantes e actuais, ao invés de tragédias/histórias de vida, os temas que a TV gosta de oferecer ao espectador tacanho e pobre de espírito.

De resto, há programas diferentes e inovadores como “Sinais” onde Fernando Alves aborda um tema actual com linguagem artística e opinião séria e ponderada. Ou o “Janela indiscreta” de Pedro Rolo Duarte onde o jornalista visita e cita blogues sobre a actualidade.

Confissão compatível com declarações?

Como é habitual nestes casos, a comunicação dita social recolhe muitas declarações de familiares e amigos. Não há ninguém que aponte um defeito. Tratam-se sempre de pessoas perfeitas, sem defeitos e só com qualidades.

Ouvimos dizer: “o meu filho é tímido […] é um menino de ouro, de tão bom que é […] é tímido e incapaz de cometer tal atrocidade” ou “um bom aluno, mais no liceu do que na faculdade, mas mesmo assim bom aluno […] nunca entrou em conflitos“.

Também disseram: “É um tipo normal, calmo, mesmo a jogar basquetebol […] Sempre deu a entender que gostava de raparigas, como todos nós” ou “todos achámos engraçado e diferente o facto de ele ter dito que gosta de ver novelas com a irmãs

Eu pergunto, como podem ser estas afirmações compatíveis com isto: Renato Seabra confessou às autoridades americanas ter assassinado e arrancado os testículos de Carlos Castro com um saca-rolhas, para o libertar dos demónios da homossexualidade.

O tabu da TV pública

Recentemente o PSD tornou pública a sua proposta de alteração à Constituição da República. Muitas vozes se levantaram em relação a um tema que é tabu na nossa sociedade: a privatização da RTP, ou a não existência de meios de comunicação social do Estado. Em vez de olhar para a proposta com preconceitos, vale a pena reflectir um pouco.

No início do séc XIX começou a luta pela liberdade de imprensa, pelo facto de esta servir para contrariar o despotismo dos governos. A imprensa era um meio de fiscalização dos que detinham o poder. Os maiores defensores de uma imprensa livre diziam que ela ajudava a “controlar a auto-preferência habitual de quem governa” e obrigava os poderosos a respeitar e servir o povo.

Estas linhas mestras desaconselham que haja meios de comunicação social tutelados pelo governo. Senão, que é feito da opinião livre que pode fiscalizar o governo? Temos a liberdade de imprensa como dado adquirido em Portugal (desde 25/04/74), mas o facto é que existe auto-censura. São os próprios jornalistas que se censuram a si próprios. A (in)consciência diz-lhes que há muito em jogo: a reputação, a família, o emprego ou o processo judicial iminente. Essa auto-censura obriga-os amiúde a pensar duas vezes.

O dever dos governos é zelar pelo interesse comum, mas o facto é que esse papel tem cabido mais à imprensa. Ela reprova incompetentes, déspotas ou tiranos que tentam asfixiar ou fugir à opinião pública. A imprensa livre expõe publicamente os abusos do poder político. Ao contrário, sabemos como a imprensa que depende do governo pode ser usada como veículo de propaganda de interesses político-partidários que procuram influenciar a opinião pública.

Outra questão que se tem levantado também, é a do princípio da universalidade subjacente ao serviço público. O famoso princípio de que os canais de rádio e TV devem transmitir programas que abranjam uma vasta audiência e satisfaçam todos os gostos. Tem a RTP seguido esse princípio? Ou será que temos hoje uma TV pública que apenas tenta concorrer com as privadas, esbanjando o dinheiro dos nossos impostos.

Se querem manter uma TV do Estado, talvez seja melhor enveredar pelo caminho já sugerido por alguns: TV sem publicidade. Isto porque o que temos visto são os efeitos decadentes que tem o poder da publicidade sobre os programas de TV. A publicidade comercializa a estrutura e o conteúdo dos programas. O êxito é medido em termos de rendimentos publicitários e níveis de audiência.

Isto faz com que aumente o lixo televisivo: programas em que se transformam casos judiciais em peças barrocas de TV; novelas e séries cheias de cenas de sexo, adultério, traição e crime; Reality Shows onde abunda a devassa. E assim sendo perde-se o espaço para programas pedagógicos, cultura nacional, documentários sobre história… enfim, o tal princípio da universalidade.

O que se quer numa TV pública? É um canal que cultive a indústria de massas que produz ilusões e faz prevalecer a satisfação expressa em banalidades, reinar o pseudo-individualismo e encorajar as pessoas a não pensar em termos críticos acerca de coisa nenhuma? Queremos um canal que lute por audiências oferecendo programas de diversidade insuficiente, que duplique inutilmente tipos de programas? (Novelas, Reality Shows…).

Poder Político 10-0 Poder da Sociedade

Mais um excelente editorial do Pedro Santos Guerreiro no Jornal de Negócios. Desta vez a propósito do ranking que o diário elaborou com os 25 mais poderosos da economia portuguesa (Curiosamente, há 5 semanas, vaticinei Ricardo Salgado como o 1º e acertei).

De entre várias considerações interessantes que o director do jornal faz, relevo as seguintes, que considero as mais importantes:

“há um movimento que é desconhecido dos nossos poderosos: o do poder que vem da sociedade. Das pessoas. Não são escolhas políticas, nem herdeiros, nem falsos predestinados de lobbies financeiros e empresariais. São poderosos não por causa disso mas apesar disso – ou mesmo contra isso […]

[…] nada é mais inquietante do que a incapacidade de renovar elites, de desafiar a estrutura de poder instalada, de mudar esta economia de século XX que se arrasta em 2010. Portugal é Ptolomeu num mundo Galileu. Teremos sempre poderosos. Mas, assim, nunca o seremos.”