Laurentino conivente com des(por)truição

neste post eu tinha abordado a questão do desporto em Portugal, do desprezo pelas modalidades ditas amadoras, e das mais valias e vantagens que estas têm em relação ao futebol (essa paixão doentia do povo português).

Nesse post chamei a atenção para a falta de consideração e respeito das autoridades – nomeadamente o Secretário de Estado do Desporto – em relação a qualquer modalidade que não o futebol.

Dei como exemplo a atenção dada ao “Caso Queirós” no futebol por oposição ao “Caso Regulamento” no atletismo. Afirmei que “O novo regulamento pode acabar com vários clubes e baixar o nível competitivo nacional. Isto, aliada à diminuição das já pequenas bolsas de alta competição, terá repercussões no futuro da modalidade

Não sou profeta, mas confirma-se agora o que vaticinei: “O FC Porto vai fechar a sua secção de atletismo como resposta ao novo regulamento aprovado pela FP Atletismo […] Ao todo serão cerca de 90 atletas” que ficarão sem clube. Além disso “deverá abster-se de representar Portugal na Taça dos Campeões Europeus“.

É absurda a regra que rejeita a inscrição de atletas estrangeiros que tenham competido no último ano pelas suas selecções. Além de objectivamente baixar o nível de competitividade, a decisão desrespeita a “legislação comunitária, nomeadamente quanto a direitos de mobilidade e de livre escolha associativa no âmbito do desporto“.

No meio disto o FC Porto acusa a Federação de ter alterado o regulamento a pedido, como consequência de o “ter conseguido quebrar a longa invencibilidade do Sporting em termos de campeonatos de clubes, que se estendeu por 15 anos

É assim que se vai destruindo o desporto e as modalidades. Mas nos entretantos, Laurentino Dias continua apenas preocupado com o seu futuro no seio da máquina (de fazer dinheiro fácil) que é o futebol. Ele não é Secretário de Estado do Desporto, nem da Juventude, é o “capo” do futebol.

O des(prezo)porto nacional

Tal como digo na minha apresentação sou um adepto do desporto. Obviamente que desde criança o futebol preenchia grande parte dessa paixão, mas logo na juventude aprendi a apreciar outras modalidades quando fui atleta federado de Andebol e Ténis. Continuei a gostar muito de futebol mas comecei a detestar a “bola”, ou seja, a “espuma dos dias” à volta do futebol. Além disso tomei consciência da sua realidade: a falta de respeito, de civismo, de moral, de ética. A corrupção, o compadrio, a promiscuidade. Tenho por isso vindo a “desligar” do futebol e dedicar-me mais a outras modalidades como o voleibol.

Tenho por isso dedicado mais tempo a pensar nas modalidades ditas amadoras, no quão importante são para o desenvolvimento da sociedade (em particular da juventude) e no desprezo a que são votadas por parte dos responsáveis governativos de hoje. Preocupa-me sobremaneira o facto de os sucessivos Governos darem apenas e só atenção ao Futebol, que ainda por cima, é hoje mais um negócio do que um desporto (pensando bem, talvez seja mesmo essa a razão de tal atenção).

Ao contrário do futebol as outras modalidades praticadas em Portugal passam por imensas dificuldades, numa altura de crise económica e financeira em que se se torna extremamente dificil captar apoios, investimentos ou patrocínios. Consequentemente vários clubes fecham as portas, deixando milhares de pessoas sem possibilidade de desenvolver a sua actividade física, desportiva e competitiva.

Ao contrário do futebol as outras modalidades ainda podem ser uma mais valia para a sociedade. Enquanto que no “desporto rei” se cultiva a inveja entre clubes, a falta de fair-play, o ódio entre adeptos, a importância apenas do dinheiro, a imagem, o compadrio… nas outras modalidades ainda se cultiva o espírito de grupo, de sacrifício, a solidariedade, o esforço, o trabalho, o mérito, a carolice, a amizade.

Mesmo havendo tantos motivos para apostar e investir nas modalidades ditas amadoras, dedicando pelo menos tanto tempo a elas como ao futebol, os responsáveis governativos parece que não vêem ou não querem ver esta situação (e o pior cego…). Os sucessivos Secretários de Estado do Desporto têm-se focado apenas no futebol, e até imiscuido em assuntos que não lhe dizem respeito, tendo por consequência resultados catastróficos. Mas ultimamente parece haver um objectivo comum e indisfarçável: querem, à saída do Governo, conquistar lugar nas estruturas do futebol.

Temos provas de que há atletas de várias modalidades tão ou mais talentosos que os do futebol. Atletas esses que podem elevar bem alto o nome de Portugal, tornar-se modelos da juventude e contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e rica. Mas insistimos em deixar cair esses atletas, desperdiçando assim um capital que eles nos podem oferecer. Temos, nas mais diversas modalidades, imensos atletas com potencial para crescer e estar entre os melhores. Infelizmente não têm condições para evoluir, nem oportunidades para se mostrar. Tudo por falta de aposta e investimento (financeiro e humano), todo ele canalizado para o futebol.

Laurentino Dias, profissional da política (Licenciado em Direito, deputado desde 1987), é o actual Secretário de Estado do Desporto, que tem passado os seus mandatos preocupado com o futebol. Algo que se torna evidente com a intromissão indevida no Caso Carlos Queirós, que nada tem que ver com desporto. No entretanto, várias atrocidades são cometidas na gestão das outras modalidades e nada se ouve ou vê do responsável máximo pelo desporto em Portugal. Vejamos o que se passa em 3 das modalidades mais praticadas.

No ténis (20.000 atletas federados), alterou-se recentemente o regulamento das bolsas de apoio à alta competição, obrigando os atletas a participar no Campeonato Nacional, sob pena de perda de 40% do subsídio do Estado. Ora, é natural que os melhores jogadores nacionais não estejam presentes. É até um bom sinal pois significa que estão a lutar pelos rankings internacionais, competindo no estrangeiro e levando longe o nome do país. Além disso estão a fazer pela vida em torneios com prize money (ao contrário do Camp. Nacional que não tem prémios).

No atletismo (15.000 atletas federados), a respectiva Federação aprovou recentemente um novo regulamento do Campeonato Nacional de Clubes, que pelo visto viola regras comunitárias. Além do mais foi aprovado em cima do início da temporada, altura em que já vários clubes tinham contratos firmados com atletas para 2010/2011. O novo regulamento pode acabar com vários clubes e baixar o nível competitivo nacional. Isto, aliada à diminuição das já pequenas bolsas de alta competição, terá repercussões no futuro da modalidade.

No voleibol (40.000 atletas federados), a própria Federação despreza a modalidade. A gestão é feita segundo uma estratégia pessoal de poder e não tendo em vista o desenvolvimento dos intervenientes. Todos os anos há clubes das principais divisões que desistem da competição e outros que fecham as portas. Muitos tiram financiamento à formação de jovens para segurar a equipa sénior, hipotecando aos poucos o futuro. O campeonato cada vez tem menos participantes e a competitividade diminui, baixando por consequência o nível de competências.

Ultimamente as modalidades ditas amadoras têm conseguido conquistas internacionais que orgulham todos os portugueses. Conquistas essas que deviam envergonhar os futeboleiros que ganham milhões e não se esforçam nem metade. Os clubes e a selecção de Hóquei continuam a ser potências mundiais. O Sporting CP venceu a Taça Challenge em Andebol. O SL Benfica foi Campeão Europeu de Futsal. Treinadores de Basket lusos (Luís Magalhães, Mário Palma) dão cartas no Campeonato do Mundo. Vanessa Fernandes, Naide Gomes e Nélson Évora conquistam medalhas nos mundiais de Atletismo e nos Jogos Olímpicos. A atleta letã, Ineta Radevica, do FC Porto sagrou-se Campeã Europeia do salto em comprimento. A selecção masculina de Voleibol fez história ao conquistar a Liga Europeia.

Tudo isto contrasta com os casos “Saltillo” e “Queirós”, com os socos de João Pinto, Sá Pinto e Scolari, com os resultados dos recentes Euro 2008 e Mundial 2010 (mesmo com individualidades fantásticas e prémios astronómicos, a selecção de futebol desiludiu). E nem os bons resultados dos idos Euro 2004 e Mundial 2006 salvam o futebol, porque isso deve-se apenas e só ao trabalho de um homem insigne: José Mourinho. Ele que montou no FC Porto a espinha dorsal de uma selecção que jogava de olhos fechados.

Por uma unha negra…

Se há ocasiões em que a “unha negra” é invocada em vão, esta não é uma deles. Falo da participação portuguesa no Campeonato da Europa de Atletismo, que começou ontem em grande com a inesperada medalha de bronze de João Vieira nos 20 km marcha.

Hoje o dia era de grandes esperanças no que diz respeito a medalhas de ouro, visto que entravam em competição os nossos melhores atletas: Naide Gomes, no salto; Francis Obikwelu nos 100m; Jessica Augusto, nos 10.000m.

Naide teve o ouro na mão, mas perdeu-o por uma unha negra ficando com a medalha de prata. A portuguesa saltou os mesmos 6.92m da letã vencedora, mas no desempate (2º melhor salto) perdeu com os seus 6.68m contra os 6.87m da campeã.

Obikwelu – o único europeu que já correu abaixo dos 9.9s nos 100m – fez uma brilhante prova, dando mesmo a sensação que teria conquistado uma medalha. O facto é que por uma unha negra falhou o pódio. Francis correu em 10.18s tal como o 2º, 3º e 5º classificados. O júri classificou-o em 4º lugar, mas a delegação portuguesa decidiu avançar para o protesto. Espera-se o resultado.

Jéssica – que por estes dias é também notícia por ser namorada de Eduardo, GR da selecção nacional de futebol – conquistou a 3ª medalha para Portugal, a de bronze. Mas novamente por uma unha negra não era prata, dado que andou a corrida toda no 2º posto, que acabaria por perder na última das 25 voltas.

Conquistamos mais 2 medalhas, de prata e de bronze, mas a tal unha negra roubou-nos um 2 patamares no pódio.