A crise de Valores e a indignação do Sr. Vasco

Recebi há dias no meu email este texto, escrito por um amigo. Não podia deixar de o partilhar (com a devida vénia) pois toca num tema sobre o qual já várias vezes escrevi, a crise de Valores.

O que se está a passar em Portugal, sobretudo na nova geração é um verdadeiro desvirtuamento das formas de tratamento – e portanto do respeito e dignidade que mereciam as outras gerações mais antigas – e da mais genuína tradição portuguesa.

Nos hospitais, os seguranças, serventes, enfermeiros e até os médicos tratam-nos pelo primeiro nome, como se não tivéssemos apelido. Devem ter aprendido isso na escola de enfermagem ou na faculdade de medicina, juntamente com a localização exacta do “mastoideu”. Os funcionários semi-analfabetos dos “call centers” devem ter instruções para nos tratar dessa forma: Sr. António, Sr. Miguel ou Sr. Francisco, porque jamais me trataram doutra.

O tratamento pelo nome próprio é um ruralismo e era apenas usado nas aldeias mais remotas. Os brasileiros adoptaram-no como norma, mas nós não somos brasileiros, apesar do maldito acordo que nos obriga a escrever em “brasileirês”.

Não sou nem nunca fui pedante, nem me considero superior a quem quer que seja, mas respeitar as tradições não só é bonito, como é em tudo correcto, além disso como reza o autor do texto infra é uma mera questão de boa educação.

«O Sr. Vasco…

Em princípio, não gosto de dizer que “sou do tempo em que…”, porque “ser do tempo em que…” corresponde a dizer que se é velho e eu não gosto de ser velho! Mas, de facto, há circunstâncias em que se tem mesmo de dizer que se é do tempo de qualquer coisa!

Ora, acontece que sou do tempo em que se tratavam os homens pelos seus sobrenomes: o senhor Pereira, o senhor Fonseca, o senhor Almeida, o senhor Ferreira, o senhor Sousa, etc. Agora a coisa mudou.

Aconteceu há cerca de uma hora, telefonar-me para casa um cavalheiro que me identifica pelo meu primeiro e último nome, desejando saber se era comigo que estava a conversar. Disse-lhe que sim e ele, que vinha para me vender um qualquer serviço ao qual nem prestei atenção, começa, logo de seguida, a tratar-me por sr. Vasco! Sr. Vasco para aqui e sr. Vasco para acolá! Confesso que engalinhei, tal como sucede em qualquer lugar onde ocorra o mesmo fenómeno – nas Finanças, no consultório do médico, na loja onde faço compras, na farmácia, etc. Se sabem o meu sobrenome, qual o motivo por que me tratam pelo nome? É uma confiança que não dou a toda a gente. Dou-a, até, a muito pouca!

A forma republicana de tratar um cidadão é pelo seu sobrenome. Essa coisa do nome em primeiro lugar é para os que se encontram muito ligados à Monarquia e às coisas da fidalguia: o Senhor D. Duarte, o Senhor D. António, o Senhor D. Manuel. Ou, mais raramente, às coisas da Igreja Católica, referindo-se aos bispos. Senhor D. Januário, por exemplo. Não faço questão pelos títulos académicos ou pelo posto militar. Claro que não vou ao extremo de aceitar intimidades como as do ministro das Finanças que era Álvaro para aqui e Álvaro para acolá! Não. Senhor e sobrenome é o modo correcto de se tratar qualquer homem! É uma questão de boa educação! E a verdade é que, cada vez mais, do ponto de vista educacional, estamos a viver num país de labregos. Parece que se tem vergonha de ser educado!

Mas, mais grave do que senhor Vasco, é quando me tratam por você! Aquele você bronco que nada tem a ver com o brasileirismo que, por sinal, muito raramente usa o você e com grande vulgaridade diz senhor.

Não estou velho! Estou é a debater-me com uma camada de gente que não foi educada, que não bebeu chá na infância e juventude, que tem vergonha de usar de correcção, que se espoja na falta de educação como os burros na palha para se coçarem.

Quando será que na escola primária – a do 1.º ciclo – se passa a ensinar boas maneiras? Que se escolhem textos didácticos para colocar em relevo a boa educação no trato social?

Já é tempo de deixarmos de ser grosseiros para ganharmos algum polimento!

Desculpem o desabafo. Se calhar estou mesmo velho e não o quero reconhecer!»

Proibido dizer mal de Portugal: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Rui Barbosa)

1 thoughts on “A crise de Valores e a indignação do Sr. Vasco

  1. Há quem diga que o senhor e senhora estão no céu,as meninas não gostam de ser tratadas por senhoras porque dá um ar de cotas,assim tratados pelo nome sentiremos e seremos sempre jovens,também acho piada a ser tratados pelo apelido há uma ligação às varias gerações e respeito,e também dá respeito à própria pessoa,você também dá respeito,antes os filhos tratavam assim os pais,hoje você é usado no jet set.Como sempre há influência das telenovelas brasileiras e dos média na forma com tratamos,mas tudo depende da educação dos pais, da escola dos média etc,dos parceiros sociais.

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