A hipocrisia de certa esquerda

Não sou hipócrita. A morte de uma pessoa que não conheço não me afecta muito. De qualquer forma não sou frio ao ponto de desprezar, e nem sequer pensar um pouco, quando as mortes acontecem, e principalmente se são em massa. Também não sou sectário. As mortes em massa impressionam-me seja por que causa for, e nenhuma é perdoável.

Naturalmente tocam-me mais as mortes que estão mais próximas, mas pelo visto não é assim com toda a gente. Costumo ver muitas vezes, em blogues e imprensa mais à “esquerda” gritos de revolta contra as guerras no Iraque ou no Afeganistão. Mas curiosamente nada vejo sobre o que se passa cá dentro. E isto faz-me uma certa confusão.

Lembro os impressionantes números da guerra do Iraque. Entre 2003 e 2009 morreram por ano 675 militares da coligação, num total de 4700 mortes. Em 2010 já morreram 43 soldados. Em Portugal, entre 2003 e 2009 morreram nas estradas um total de 6800 pessoas, ou seja, 971 vítimas mortais por ano.

Desde o início do ano morreram 406 pessoas nas estradas, disse a estatística da ANSR. E “estes números dizem respeito às mortes no local do acidente ou durante o percurso para o hospital“, não contaram as pessoas envolvidas nos acidentes que morrerem nos hospitais nos 30 dias seguintes.

Volto a repetir o que já escrevi em 2008: O que faz essa gente de esquerda “quando todos os dias vêem nos noticiários mortes nas estradas de Portugal? Ignoram ou dizem “olha… mais um”. Ficam completamente indiferentes […] Não ficam revoltados com os responsáveis, com os governantes, com eles próprios“. Mas se a causa da morte for motivo para atacar a “direita”… haja hipocrisia.

One thought on “A hipocrisia de certa esquerda

Deixe um comentário